Wagner Moura por Jean Wyllys
Estava toda a turma concentrada na aula de Fundamentos da Comunicação Humana quando adentrou a sala, apressado, um rapaz bonito com leves mas aparentes olheiras no rosto branco e com uma cabeleira castanha cacheada e molhada de um banho recente.
Seu carisma sem esforço atraiu a atenção de todos e todas, inclusive a do professor, que não perdeu tempo em fazer piada do que ele chamou de "frequentes atrasos" do aluno.
Assim se deu meu primeiro encontro com Wagner Moura, que, naquele ano de 1995, já estava envolvido com o teatro – motivo de ele muitas vezes se atrasar para as aulas na Faculdade de Comunicação (a Facom) da Universidade Federal da Bahia, onde cursamos e nos formamos em Jornalismo.
A partir dali, nós conviveríamos nas aulas de outras disciplinas, mas sobretudo na cantina da faculdade (a Cantina do Vovô!), onde as diferentes turmas se encontravam para estender os debates das aulas; trocar impressões sobre os autores estudados; emitir opiniões sobre produtos e personalidades da indústria cultural; debochar dos alunos e professores mais marcantes ou caricatos; cantar e tocar violão; e, claro, beber, que também sem a cerveja ninguém segurava aquele rojão (e a Facom era a única das unidades da UFBA a vender bebida alcoólica, o que atraía para lá alunos mais progressistas de cursos conservadores como Direito e Medicina, que costumavam nos ver como "exóticos").
Wagner Moura estudava jornalismo, mas já era um homem comprometido com as artes cênicas. Alguns anos depois, quando protagonizou o espetáculo Abismo de Rosas, escrito por Claudio Simões a partir de canções de Lupicínio Rodrigues e dirigido por Fernando Guerreiro, Wagner mostrou ao público do teatro baiano que era um ator de raro talento e que certamente ganharia o Brasil por isso. Não demorou muito para que acontecesse.
Por conta de sua arrebatadora atuação em A Casa de Eros (montagem especial de José Possi Neto para comemorar o aniversário da Escola de Teatro da UFBA), Moura foi convidado pelo roteirista e diretor pernambucano João Falcão a estrelar – ao lado de Lázaros Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão – o espetáculo A Máquina, baseado no romance de Adriana Falcão. Graças ao estrondoso sucesso de público e de crítica dessa empreitada, o elenco foi parar na Globo, por meio do seriado Sexo Frágil, escrito e dirigida pelo mesmo João Falcão.
Na sequência, Wagner Moura protagonizou duas novelas – A Lua Me Disse e Paraíso Tropical – e uma minissérie (JK). Mas podemos dizer que seu talento se tornou conhecido mesmo em todo Brasil (e, a partir daí, em outras partes do mundo) com o fenômeno Tropa de Elite, em que fez de seu personagem (o Capitão Nascimento) o mais popular, controverso e memorável herói da história do cinema brasileiro até o momento. Não por acaso, o diretor da franquia, José Padilha, convidou-o a protagonizar sua série para a Netflix: em Narcos – que estreou recentemente – Wagner Moura aprendeu a falar fluentemente castelhano e engordou vinte quilos para encarnar o traficante colombiano Pablo Escobar.
Nós estivemos juntos na Colômbia durante as gravações. Na ocasião, Wagner me bombardeou de perguntas sobre a crise política no Brasil, interessado que é no tema.
Na entrevista que segue, realizada entre xícaras de café, bolo de chocolate, muitas risadas e as intervenções de seus três filhinhos (Bem, Salvador e José), ele fez sua própria avaliação da grave situação política e econômica que o Brasil enfrenta; revelou detalhes dos bastidores de Narcos; contou o motivo de não ter perfil em nenhuma rede social; fez considerações sobre as recentes expressões do ódio no país; explicou por que não fez novelas nesses últimos anos e disse em que ponto está seu filme sobre o guerrilheiro comunista Carlos Marighella e qual será seu próximo desafio artístico.
É sempre bom estar com Wagner Moura e com Sandra Delgado (fotógrafa, sua esposa e também minha amiga desde os tempos da Facom). Espero que nossa conversa lhes enriqueça tanto quanto me enriqueceu.
Wagner: Eu entendo de amor, de tesão, eu sei o que é sentir tesão por alguém, eu sei o que é ter vontade de transar com uma pessoa. É da natureza do ator se colocar em situações nas quais você habitualmente não vive na sua vida normal.
Fonte: Top Magazine
Seu carisma sem esforço atraiu a atenção de todos e todas, inclusive a do professor, que não perdeu tempo em fazer piada do que ele chamou de "frequentes atrasos" do aluno.
Assim se deu meu primeiro encontro com Wagner Moura, que, naquele ano de 1995, já estava envolvido com o teatro – motivo de ele muitas vezes se atrasar para as aulas na Faculdade de Comunicação (a Facom) da Universidade Federal da Bahia, onde cursamos e nos formamos em Jornalismo.
A partir dali, nós conviveríamos nas aulas de outras disciplinas, mas sobretudo na cantina da faculdade (a Cantina do Vovô!), onde as diferentes turmas se encontravam para estender os debates das aulas; trocar impressões sobre os autores estudados; emitir opiniões sobre produtos e personalidades da indústria cultural; debochar dos alunos e professores mais marcantes ou caricatos; cantar e tocar violão; e, claro, beber, que também sem a cerveja ninguém segurava aquele rojão (e a Facom era a única das unidades da UFBA a vender bebida alcoólica, o que atraía para lá alunos mais progressistas de cursos conservadores como Direito e Medicina, que costumavam nos ver como "exóticos").
Wagner Moura estudava jornalismo, mas já era um homem comprometido com as artes cênicas. Alguns anos depois, quando protagonizou o espetáculo Abismo de Rosas, escrito por Claudio Simões a partir de canções de Lupicínio Rodrigues e dirigido por Fernando Guerreiro, Wagner mostrou ao público do teatro baiano que era um ator de raro talento e que certamente ganharia o Brasil por isso. Não demorou muito para que acontecesse.
Por conta de sua arrebatadora atuação em A Casa de Eros (montagem especial de José Possi Neto para comemorar o aniversário da Escola de Teatro da UFBA), Moura foi convidado pelo roteirista e diretor pernambucano João Falcão a estrelar – ao lado de Lázaros Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão – o espetáculo A Máquina, baseado no romance de Adriana Falcão. Graças ao estrondoso sucesso de público e de crítica dessa empreitada, o elenco foi parar na Globo, por meio do seriado Sexo Frágil, escrito e dirigida pelo mesmo João Falcão.
Na sequência, Wagner Moura protagonizou duas novelas – A Lua Me Disse e Paraíso Tropical – e uma minissérie (JK). Mas podemos dizer que seu talento se tornou conhecido mesmo em todo Brasil (e, a partir daí, em outras partes do mundo) com o fenômeno Tropa de Elite, em que fez de seu personagem (o Capitão Nascimento) o mais popular, controverso e memorável herói da história do cinema brasileiro até o momento. Não por acaso, o diretor da franquia, José Padilha, convidou-o a protagonizar sua série para a Netflix: em Narcos – que estreou recentemente – Wagner Moura aprendeu a falar fluentemente castelhano e engordou vinte quilos para encarnar o traficante colombiano Pablo Escobar.
Nós estivemos juntos na Colômbia durante as gravações. Na ocasião, Wagner me bombardeou de perguntas sobre a crise política no Brasil, interessado que é no tema.
Na entrevista que segue, realizada entre xícaras de café, bolo de chocolate, muitas risadas e as intervenções de seus três filhinhos (Bem, Salvador e José), ele fez sua própria avaliação da grave situação política e econômica que o Brasil enfrenta; revelou detalhes dos bastidores de Narcos; contou o motivo de não ter perfil em nenhuma rede social; fez considerações sobre as recentes expressões do ódio no país; explicou por que não fez novelas nesses últimos anos e disse em que ponto está seu filme sobre o guerrilheiro comunista Carlos Marighella e qual será seu próximo desafio artístico.
É sempre bom estar com Wagner Moura e com Sandra Delgado (fotógrafa, sua esposa e também minha amiga desde os tempos da Facom). Espero que nossa conversa lhes enriqueça tanto quanto me enriqueceu.
Jean:
Qual o sentido de um filme como “Marighella”, nesse contexto de
polarização no Brasil, em que "comunista" volta a ser xingamento, e a
gente vê surgir uma espécie de patrulha, de um neomacartismo, na
tentativa de desconstrução desses pensamentos de esquerda?
Wagner: Talvez
por isso mesmo. Escrever um roteiro é uma coisa muito difícil. Talvez
seja o processo mais difícil do filme, porque você precisa encontrar um
recorte. Eu estava muito angustiado com isto, em ser honesto com tudo o
que aconteceu, com a história, e ao mesmo tempo fazer um filme de
ficção. Mas pude ver uma palestra da Heloísa com a Lilian Schwarz, em
que ela dizia que a escravidão e as revoltas são duas linhas que correm
em paralelo no Brasil, e isso me ratificou a certeza de que eu preciso
falar sobre esse tema.
Eu voltei agora da Alemanha depois de lançar o Narcos
em Paris, em Londres e na Inglaterra, e eu dizia especialmente aos
jornalistas alemães que eu vou fazer um filme sobre um guerrilheiro,
sobre a ditadura no Brasil. Eu disse que na Alemanha, embora eles
próprios não achem isso, há uma relação psicologicamente muito mais
saudável com o passado deles, com o holocausto basicamente (claro que
houve uma proporção imensamente maior que a ditadura no Brasil). Nossa
tendência na América Latina, especialmente no Brasil, é o esquecimento, é
você dizer “deixa pra lá”. A lei da anistia é ruim, eu acho que ela não
faz bem psicologicamente para a nação porque não faz justiça. E mais
que isso, ela não só não faz justiça, como ela é alienante,
especialmente para a minha geração, ela é muito alienante.
A
nossa geração não cresceu sabendo direito o que aconteceu. A história
que nos foi contada fala de comunismo.... E eu, como artista, não
consigo ver essa história. Eu estou fazendo uma história de Pablo
Escobar, nenhuma história deve ser contada de maneira maniqueísta.
Nenhum personagem pra mim é bom, nenhum personagem pra mim é mau, eu
tento fazer um filme pra gente adulta, com personagens complexos,
entendendo aí as relações psicológicas, sociais e do momento em que as
pessoas pensam de determinada maneira.
Jean: Em que ponto está o filme?
Wagner:
O roteiro está sendo encaminhado, mas estamos com muita dificuldade de
captar recursos para um filme sobre um comunista no Brasil. E isso me dá
muito mais vontade de seguir.
O
que eu queria mesmo é justamente entender uma coisa que pra mim nunca
foi bem contada:, entender o que fazia com que as pessoas que estão tão
próximas da gente, em termos de geração, tivessem uma atitude perante a
política, a história, a vida, o país, tão diferente da nossa. Nós que
nascemos e vivemos na ditadura...
O
mundo caminhou para um lugar individualista, aquilo que vale é a sua
carreira, a sua família. Já o pensamento coletivo e as utopias... (veja
que o projeto na União Soviética mostou-se inviável, e em Cuba, com a
ditadura de esquerda, tivemos que passar por um entendimento, um
revisionismo do que é ser de esquerda). Hoje em dia, se pensamos que
somos de esquerda, teremos vários questionamentos, várias dúvidas serão
levantadas até você dizer “eu sou uma pessoa de esquerda porque eu
acredito na justiça social, eu acredito na liberdade individual, eu
acredito que todo mundo é igual perante a lei”. Se isso é ser de
esquerda, foda-se, eu sou de esquerda.
Jean:
Também gostaria de entender como as pessoas fazem uma opção política de
resistência que as leva, por exemplo, a pegar em armas. Como se dá
isso?
Wagner:
Ah, isso é tortura, a pessoa não tem uma vida. A vida dela é aquela,
você perde seus amigos, você não tem contato com os seus pais, alguns
tinham filhos e deixavam de ver seus filhos e podiam ser são torturados e
mortos.
Jean:
Mas como são feitas essas escolhas? Como elas se impõem pelo coletivo e
não pelo indivíduo? E em que medida essa escolha está necessariamente
certa? Nessa onda de polarização, em que o Brasil está vivendo essa
divisão política, que começou em 2010 e recrudesceu nas eleições de
2014, permanece agora uma espécie de “terceiro turno”, com muito
xingamento e pouco diálogo. E os episódios são utilizados
emblematicamente, como o helicóptero com meia tonelada de pasta de
cocaína, um avião que pertence a uma família de políticos.
E
eu te pergunto, você está fazendo agora um seriado sobre tráfico de
drogas e sobre a figura do Pablo Escobar. Você já disse que não julga o
personagem, mas eu queria que você me dissesse: fazer esse personagem te
ajudou a entender, te colocou no outro lado, inclusive? Porque você fez
um personagem que se tornou muito popular, o Capitão Nascimento, que
está ao lado das forças de repressão. O cara que, sobretudo no primeiro
filme - no segundo de maneira mais crítica -, está convicto de que uma
guerra às drogas tem que ser estabelecida. Fale um pouco dessa mudança, a
partir desses dois personagens.
Wagner:
É engraçado porque o Escobar, assim como o Nascimento, também era um
factóide, uma caricatura da direita, errada. E ele se dizia o Robin
Hood colombiano. O que eu acho que acontece hoje no Brasil é muito pobre
das duas partes, tanto da direita quanto da esquerda. É pobre demais a
conversa, sabe?! “Petralha”, “coxinha”...
Eu
dei uma declaração que gerou polêmica, que foi uma declaração mal
escrita pelo jornalista Merten. Segundo ele eu teria dito que não dá
mais pra viver no Brasil. Eu nunca disse isso! Se eu quisesse ir embora
do Brasil, já teria ido há muito tempo. Eu moro no Brasil, minha família
mora no Brasil, meus filhos moram aqui, moram na Bahia. Mas eu disse
que estava feliz de não estar aqui durante a eleição e tudo que está
acontecendo agora. E essas declarações que eu dei quando lancei o “Praia
do Futuro” repercutiram tanto de um lado quando de outro. Eu tomei
porrada dos dois lados, tanto do Rodrigo Constantino quanto do Jorge
Furtado. E as duas porradas, as duas punições, me pareceram burras. As
duas me pareceram pobres, porque na época eu denunciava... a direita já
começava a ficar burra, o governo já apresentava fragilidades, mas foi
antes do chamado “Petrolão”, antes dessa crise toda. E eu dizia que o
Brasil caminhava pra um conservadorismo que hoje em dia é muito mais
forte do que estava em 2014. Eu falava do recrudescimento da direita no
Brasil, mas falava também desse maniqueísmo burro que se instalou no
Brasil.
Como
eu disse, se algumas posições definem uma pessoa de esquerda, então eu
sou de esquerda, mas não sou ideologicamente imbecil, eu não sou um
idiota. Só uma pessoa idiota, mesmo - talvez agora eu deva estar pegando
pesado -, só um imbecil ideologicamente cego não está vendo que existe
um evidente problema no governo, que existe uma crise violenta de
corrupção, de valores. Eu sempre me lembro daquele livro Corações Sujos,
aquele livro dos japoneses que se recusavam a acreditar que o Japão
havia perdido a guerra. Quando alguém me diz “o mensalão é uma
invenção”, eu não sei o que dizer. E ao mesmo tempo não posso compactuar
com esse golpismo, esse movimento de ultra-direita, de elite, de gente
rica. Outro dia ouvi uma frase ótima: “felizes das pessoas que acham que
a corrupção mora num partido”, ou seja, há quem acredite que assim que
se tirar esse partido do poder a corrupção vai acabar. Que pessoas
felizes, que coisa boa! Mas a pessoa que reflete, a pessoa que pensa, a
pessoa que faz esforço pra pensar, ela não é feliz.
Jean: Wagner, você acha que a popularidade do Capitão Nascimento, em parte, é a rejeição pela Praia do Futuro? A rejeição homofóbica?
Wagner:
Eu acho que sim. Quando lançamos o filme em Berlim, eu não queria que a
homossexualidade fosse um tema, porque era uma posição muito particular
minha, eu acho que quando existe um casal, um homem e uma mulher, isso
não é um tema; então não deveria ser um tema quando são dois caras.
Talvez tenha sido uma postura errada, talvez a gente devesse ter falado
mais, porque isso ainda é uma questão. Talvez eu estivesse prevendo um
momento, ou querendo, e infelizmente não é assim. E muita agente foi ver
o “Praia do Futuro” querendo ver o “Tropa de Elite” dos bombeiros, e
em cinco minutos de filme o bombeiro estava "dando" no carro.
Jean: O João Ubaldo Ribeiro dizia que as pessoas sempre
perguntavam a ele como era possível um homem hétero, com a vida hétero,
ter escrito cenas tão verossímeis, tão verdadeiras de homossexualidade
em “A casa dos Budas Ditosos”.O Heath Ledger também, muita gente
perguntava pra ele sobre aquela cena de “Brokeback Mountain” com o Jake
Gyllenhaal. Curioso as pessoas perguntarem sobre isso, né? Já lhe
fizeram esse tipo de pergunta? Como é possível você ter feito aquela
cena não sendo um ator gay, sendo um ator hétero? Wagner: Eu entendo de amor, de tesão, eu sei o que é sentir tesão por alguém, eu sei o que é ter vontade de transar com uma pessoa. É da natureza do ator se colocar em situações nas quais você habitualmente não vive na sua vida normal.
Jean:
Mas também é da natureza do grande público não compreender essa
natureza do ator. Tanto é que, muita gente te confunde com o Capitão
Nascimento. Muita gente rejeitou o filme porque esperava ver o Capitão
Nascimento. Muita gente faz patrulha na vida privada dos atores por não
compreender que o ator está ali pra se jogar no personagem. Fale um
pouco de como resistir ao canto da sereia da indústria cultural em
contraponto à necessidade material de se ter uma vida confortável. Da
escolha de não se fazer determinados papéis que possam render prejuízo
no mercado publicitário, por exemplo... Como conciliar isso?
Wagner:
Eu nunca fiz uma opção na vida pensando no mercado. Nem pensava no
quanto eu ganharia, quanto iam me pagar. Quando eu quero fazer uma
coisa, eu vou e eu faço. Claro que eu tenho três filhos e eu preciso
sustentá-los. E graças a Deus eu estou num momento da minha carreira em
que sou bem pago. Mas não escolho uma coisa pensando como é que vai
ficar a minha imagem, ou o que é que as pessoas vão pensar.
Mas
busco fazer coisas que me acrescentem algo. Eu não gosto do termo
"carreira", eu não sei o que é carreira, eu sei o que é a minha vida,
isso é a minha vida. No campo internacional é o mesmo, as escolhas que
eu farei vão fazer sentido pra mim, me farão entender alguma coisa, vão
acrescentar algo na minha vida.
Jean: E você queria muito trabalhar com Karim, eu lembro disso...
Wagner:
Eu sempre quis trabalhar com Karim, com o que quer que fosse. E eu
tenho outro projeto com Karim, que é sobre a intolerância religiosa. Meu
próximo projeto com ele é uma tentativa de entender, e eu quero muito
fazer isso, o fenômeno dessas igrejas pentecostais.
Eu
também não aceito a redução, a redução me parece classe média. Eu
resisti muito, até conversando com você, com relação à Marina, há muito
tempo. Eu realmente entreguei os pontos quando a vi capitulando com
relação ao projeto de governo dela, com relação à homossexualidade. Mas
não por ela ser evangélica, porque isso me parece um preconceito às
avessas. Parece coisa de gente que faz troça de música brega, elitismo,
aquela coisa de religião de empregada. Isso eu não acho legal, porque
nas manifestações contra Marcos Feliciano das quais nós dois
participamos, eu encontrei alguns pastores muito legais, gente legal,
com quem eu não tive tempo de conviver. E acho também que as religiões
cumprem um papel social.
Agora,
é claro que a gente vê na televisão, a gente vê de um modo geral a
força que esses caras têm no Congresso. Eles se tornaram uma força
política determinante, eles têm muita força, mas a agenda deles é muito
atrasada... Isso sim, a isso eu me oponho e vou me opor sempre. Mas eu
quero entender as pessoas. E voltando a Pablo, o que mais perguntam -
engraçado, muito parecido com o Nascimento - é: "como você humaniza um
cara?" E eu digo “mas ele é uma pessoa, ele foi um ser humano, ele
nasceu, não brotou, não é uma medusa”.
Jean: Arnaldo Antunes fala: “Saiba, tudo mundo já foi criança, Maomé já teve infância”. E é isso, humanizar...
Wagner:
Porque não quer dizer que eu não tenho juízo crítico sobre o
Nascimento, mesmo sendo um personagem de ficção, e sobre o Pablo
Escobar, evidentemente.
Jean: Narcos terá uma segunda temporada?
Wagner:
A Netflix faz um jogo de cena, eles não dizem oficialmente que haverá.
Eu imagino que eles queiram anunciar isso, e esse anúncio gera
expectativa. Acho muito difícil não haver, mas eu não sou autorizado a
dizer que haverá.
Jean: Mas você está disposto a continuar?
Wagner: Estou. Porque foi a coisa mais difícil que eu já fiz na vida, e eu quero fazer.
Li
um texto hoje, de Adriana Calcanhotto, sobre o tempo, sobre a
velocidade das informações. A gente fala em voltar a viver em Salvador,
por exemplo. Eu quero cada vez mais atrasar o meu passo, andar mais
devagarzinho, embora eu esteja ficando mais velho, numa época em que se
está querendo correr pra tudo. Eu não, quero aguentar tudo isso e andar
mais devagar. Por isso eu não tenho mídia nenhuma, não tenho Facebook,
não tenho Instagram, não tenho Twitter, eu não tenho nada disso, se
pudesse eu não teria celular. Eu quero andar com mais espaço, e Narcos
foi uma coisa que eu fiz - e quero fazer tudo assim - e eu tive tempo
pra fazer, fiquei muito orgulhoso do que eu fiz. Eu aprendi a falar uma
língua pra fazer um personagem. Eu fui para a Colômbia, eu fiquei lá,
estudei, engordei 20 quilos. Um ator brasileiro, magro, que não fala
espanhol, vai fazer Pablo Escobar... É como chamar um ator da Colômbia e
dizer “você vai ser o Pelé”, e o cara é branco. E foi pra mim um caso
muito desafiador, contracenando com atores colombianos, então eu tenho
muito orgulho disso, dessa série, e quero fazer outra temporada, porque o
Pablo Escobar vai ter que morrer, a gente não terminou isso nessa
primeira temporada.
Jean:
Durante o estudo para o personagem, conhecendo a realidade da Colômbia,
que é bastante complexa, a política colombiana, o papel do narcotráfico
inclusive na política mundial, você reavaliou sua posição em relação à
legalização das drogas?
Wagner:
Eu ratifiquei. É isso mesmo. As drogas precisam ser legalizadas. Eu
estava falando com uma americana, essa semana, e ela falou: “cara, eu
não sei se eu quero... todas as drogas?” E eu falei "todas as drogas,
porque cada droga tem a sua dinâmica, não é tipo 'legalizou, aí tem no
supermercado cocaína, heroína'... não é assim não é uma liberação, é uma
legalização". Daí ela disse “eu não sei se eu quero estar na rua e
encontrar alguém que vomite na minha frente”. E eu disse "bom, antes a
pessoa vomitar na sua frente na Califórnia do que no México 50 pessoas
serem assassinadas de uma vez só por causa disso. Eu acho que uma pessoa
vomitar na sua frente é um preço que você tem que pagar".
E
é ruim porque a política antidrogas é uma política subvencionada pelos
Estados Unidos e a relação que os americanos têm com as drogas dentro do
próprio país é de absoluta tolerância. As drogas são quase legais em
vários estados. Na Califórnia você pode comprar maconha tranquilamente
se você tiver uma receita médica, que é oferecida nas ruas de Vennes. No
entanto, eles apoiam uma política repressora nos países produtores e
nos países da América Latina em geral, em que as pessoas te revistam,
entra cachorro dentro do seu carro. Vai ver se entra cachorro no carro
em Nova York.
Jean:
E eles não levam em conta os insumos, os refinos... o da cocaína, vem
todo dos Estados Unidos. A coca pode ser plantada aqui na América do
Sul, mas os insumos químicos vêm todos dos Estados Unidos.
Wagner:
E as armas, que estão nesses grupos armados, inclusive, também vêm de
lá. Então não há como você não se opor à política de repressão por um
fato muito evidente: ela se mostrou ineficaz nos últimos 40 anos, ela é
ineficaz e ela tem servido muito pra matar gente pobre em países pobres,
em país de terceiro mundo.
Jean:
Wagner, eu te conheço de longas datas, e sei que o seu compromisso é de
fato com a arte, com o que te faz feliz, com o que acrescenta ao mundo.
Sempre foi o seu critério. Ainda assim, você aconteceu na indústria
cultural: você foi parar em Hollywood. O talento ainda faz diferença,
não faz? Numa indústria tão complexa, em que as pessoas que fazem essa
indústria são de origens tão diversa, em que são muitos os critérios
para que as pessoas a alcancem, o talento ainda faz uma diferença, não
faz?
Wagner:
Eu acho que faz, Jean, mas eu acredito também, e mais ainda, em
dedicação e entrega. Em você se entregar mesmo ao que está fazendo.
Jean:
É a distinção que eu faço entre talento e vocação, porque muitas vezes a
pessoa tem talento mas não tem vocação, no sentido da vontade de
burilar, de levar adiante. E tem gente que tem vocação e descobre o
talento nessa vocação.
Wagner: Sim, embora minha profissão seja tão louca e eu não tenha vocação pra várias coisas que são atributos dela.
Jean: Como o quê, por exemplo?
Wagner:
Lançar um filme, explicar o filme para as pessoas, dar uma pinta, tirar
foto, aparecer na revista. Sem nenhuma falsa modéstia, eu não tenho
vocação pra isso. Os americanos têm muita coisa de network. Você é
convidado pra uma festa, mas não é pra você se divertir, é pra você
conhecer alguém. E lá eles me dizem: aqui a gente faz um filme pra pegar
outro. Ora, eu vou fazer um filme se eu quiser fazer um filme, se eu
não quiser eu não vou fazer. E é uma dinâmica que eu tenho estabelecido
com os meus agentes, que é difícil, que eles não conseguem entender,
parece petulante que um ator brasileiro se recuse a fazer
um filme com um ator “x”. Agora, quando eu estou entregue ao fundamento
da profissão de ator, eu faço com muita entrega, inclusive sacrificando
o tempo com a minha família.
Jean:
Exatamente por defender isso, o espaço da privacidade, por não dar
estímulo pra certas coisas, pra certa exposição, você teve um tempo aí
de entrevero com a mídia de celebridades. Ela lhe deu trégua?
Wagner:
Ela não quer saber de mim mais, o que eu acho muito bom. Eu deixei de
interessar a eles num sentido... eu tenho gerado polêmica pelas escolhas
profissionais que eu faço, algumas, o própria “Praia”, o show com a
Legião Urbana, o Tropa de Elite... Isso gera polêmica, e sei
que eles gostam, porque eu gosto também. E ainda no posicionamento
político, que nesse Brasil de “Fla x Flu” rapidamente se vira uma
escória social pra um determinado grupo.
Jean: Mas não é porque você está usando a roupa “x”, nem está jantando no restaurante “y”.
Wagner: Exatamente! Isso eles não terão nunca.
Jean:
Você é muito musical, não só porque gosta de música, e faz
intertextualidade com a música... Você tem a banda, "Sua Mãe". Vai se
dedicar à banda mais do que tem se dedicado?
Wagner:
Essa banda é uma brincadeira, uma coisa que me faz bem, eu gosto dela,
eu gosto da música que a gente fez, que a gente faz. Em 2010, quando
completamos 18 anos de banda - agora nós temos 23 - lançamos esse disco,
um coletivo que foi The very best of the greateast hits, que
era o nome brega, a gente está sempre compondo. A gente se encontra e
compõe. E agora é tenso, porque tem dois morando na Bahia, um morando no
Rio, e fica mais difícil de a gente se encontrar. Quando todo mundo
morava em Salvador, eu ia pra lá e a gente ia tocar. É difícil
operacionalizar, mas eu adoro música.
Jean: E faria um novo show com a Legião? Faria mesmo, apesar de toda...
Wagner:
Total! Claro, Jean, você acha que eu fui fazer um show com a Legião
esperando que a crítica dissesse: “Oh, Wagner Moura, que cantor do
caralho”? Não, eu fiz porque, como eu te disse antes, fez sentido na
minha vida. Porque agora eu posso dizer que eu fiz isso, foi uma das
coisas mais extraordinárias que eu já fiz na minha vida. Duas coisas que
eu fiz que eu acho incrível: Hamlet e aquilo. E Dado Villa Lobos é meu
amigo.
Jean:
Eu confesso que queria estar lá no seu lugar, cantando no lugar do meu
ídolo. Aquilo foi surreal, pra mim, pra nossa geração. Você indicou uma
música de Roberto Carlos para a trilha sonora de Narcos, e qual foi a música especificamente, você lembra?
Wagner: Detalhes.
Era alguma cena em que eu estava dançando, e eu pedi Roberto. O Roberto
é muito conhecido na América Latina, gravou em espanhol, muito querido
na Colômbia. Eu fiquei muito triste, mas eu soube que ele não quis o
nome dele envolvido com uma série que fala de um traficante. Eu sou
muito fã de Roberto, muito fã dele, do artista que ele é, mas ele tem
constantemente se posicionado de público de uma forma que eu lamento. E
ainda mais ele sabendo que eu sou um artista brasileiro, que o Padilha é
um artista brasileiro, me pareceu boba a recusa. Eu fiquei chateado, o
que nunca vai mudar a minha relação de fã absoluto da música dele, mas
achei que ele foi bobo.
Jean: Não levou em conta nem a sua sensibilidade ali, de perceber que tinha tudo a ver. Mas o Pablo era fã dele. E depois de Hamlet, tem algum personagem no teatro que queira fazer? Você é um animal de teatro...
Wagner:
Eu quero dançar. Hamlet deu uma ressaca grande... realmente foi o que
mais impactou na minha vida. É difícil pensar agora em outra coisa, eu
não me interesso por outra coisa, e as palavras que estão ali, em
Shakespeare... Claro que existem outros autores maravilhosos. E eu
sempre gostei de um certo tipo de teatro muito físico, eu gosto de usar o
palco pra ser expressivo, de uma forma que cinema não nos deixa ser.
Eu
nunca gostei de teatro que tem uma lareira... embora eu ache Tchekhov
gênio, Ibsen... e tem a nova dramaturgia americana. Eu acho que o teatro
se presta a uma outra linguagem, e Shakespeare é puro, ele é o anti
teatro tipológico; o que Brecht descobriu na revolução, e trouxe para o
teatro no século vinte, Shakespeare já havia descoberto em 1600. É lindo
isso, eu adoro isso, já estava lá, ele descobriu aquilo tudo. Você fala
com a plateia, não tem cenário, o cara fala “estamos numa floresta”,
não precisa ter um cenário. E essa expressividade física é uma coisa que
eu queria muito fazer.
Jean: Engraçado que Lars von Trier levou isso para Dogville,
para a experiência dele, que é o cinema se valendo dessa possibilidade
que o teatro dá, da imaginação. Então por isso você quer dançar agora?
Wagner:
Sim, agora eu quero dançar, e expressar mais, claro que com algum
texto. Pina Bausch e Caetano são os dois artistas que eu mais admiro na
minha vida. São os dois artistas que mais me dizem, que me comunicam...
Jean: Você tem visto alguma coisa? Tem dado tempo de ir ao teatro ver as coisas? Nem fora?
Wagner: Não.
Jean: Lá na Colômbia você não chegou a ver?
Wagner:
Lá na Colômbia a gente chegou a ver uma peça argentina, de um grupo
argentino muito bom, chamado Timbre 4. Eu já tinha visto uma peça dele
em Buenos Aires, muito boa, chamada A Maldição da Família Coleman,
e ele estava em Bogotá com uma peça sobre a relação de uma babá de
família, dessas babás-mães, que educam o menino, e que o hiperprotegem, e
de repente eles se reencontram, a babá já velha e ele já tinha formado
uma família. É um embate sobre a vida, sobre essas questões de “a
intimidade e a não intimidade”, a relação que ela projetou ali e o que
ele sente, no que ele se transformou; ela ainda o via como aquele
menino, mesmo porque não é filho dela. É muito, mas muito interessante.
Jean:
Engraçado, eu li um texto recentemente, de uma relação entre babá e
filho, sobre um sistema de castas, na Índia, e ele é um cara que sempre
conviveu com ela em casa, os pais liberais. Então a tinham como uma
pessoa da família, mas ela foi a criada, fazia comida. Quando ele
cresce, vai para a escola e adquire todos os valores dos sistemas de
castas de anos, então ele começa a rejeitá-la, a dizer que não quer que
ela apareça em público ao lado dele. Daí a mãe fala: "você sempre comeu
da comida dela, você sempre gostou dela". Pra mostrar que essas coisas
do ódio, da rejeição, são construídas, são partes de um processo de
socialização.
Wagner: E
sobre a socialização, quando esses caras aí falam que nós somos
hipócritas, porque passamos de uma classe social a outra... tanto essa
esquerda burra quanto essa direita radical, é como se sua classe social
determinasse o seu olhar. Você só tem o direito de olhar de determinada
maneira se você pertencer a determinada classe social. Ou seja, quando
eu estava na Bahia, sem dinheiro pra comprar uma cerveja, aí eu podia
pensar “assim, assado”, mas como eu prosperei na minha vida... é até
difícil discutir isso.
Jean:
Há liberais que eu respeito pra caramba, mas o que os liberais pregam é
um mundo que não existe, porque ninguém no mundo parte das mesmas
condições. Entendeu?! Ninguém parte das mesmas posições, isso é fato. As
pessoas partem de condições distintas, e determinada posição que você
ocupa na sociedade lhe trás vantagens evidentes em relação aos outros.
Então você partir da ideia de que os pobres são pobres por
incompetência, defender a meritocracia, a ideia de que você é bem
sucedido por pura competência, é você desconsiderar a história, o papel
da história e de como essas pessoas são posicionadas nessas relações
assimétricas de poder. Nesse sentido eu sou de esquerda, não da esquerda
burra, tradicionalmente, antes mesmo do marxismo, a esquerda anterior
ao marxismo. A posição de direita e esquerda não começa com o marxismo, o
marxismo se identifica com a esquerda, mas eu falo da esquerda
anterior. Ser de esquerda é entender que o mundo não está dado, que as
coisas não são como são por obra da natureza ou por obra divina; as
relações são o fruto de uma disparidade de condições. Não podemos achar
que as pessoas são pobres porque elas são incompetentes, que o menino
não está na escola, e está vendendo nas ruas, porque não teve
competência para estar na escola; que uma pessoa negra é desprestigiada
no mercado de trabalho porque ela é incompetente, e não por causa do
preconceito racial. Quer dizer, os liberais não levam em conta essas
posições de sujeito. Ser de esquerda é você entender, sim, que existe
essa disparidade, essa desigualdade, essa desvantagem, e a gente quer
minimizá-la.
Wagner:
Exatamente, é minimizar isso e possibilitar ascensão social. Eu não
quero que quem é rico vire pobre, eu quero é que o pobre se levante.
Jean:
E que a gente compreenda que há desvantagens. A própria rede de
relações que você estabelece já lhe dá uma série de vantagens em relação
aos outros. A pessoa é vítima de uma desigualdade material mesmo,
social, ela está excluída na pobreza, ela foi impedida de entrar no
sistema escolar, portanto de ter a formação que lhe permitiria chegar ao
mercado de trabalho de outra maneira. E, além disso, ela tem uma
desvantagem existencial, que está ligada à existência dela, que são os
negros, os gays, as pessoas com deficiência... Defender essas pessoas,
para mim, é ser de esquerda.
Mas
olha, por fim, boa parte do público brasileiro não tem acesso a sua
arte e sente falta de você fazer um produto tão popular, que é a novela.
Existe algum convite, você pensa em voltar a fazer? Sei que você não vê
muito, não tem muito tempo de ver...
Wagner:
Eu não costumo, eu não vejo mesmo. Eu lembro que “Avenida Brasil” foi
uma novela que eu achei incrível, que eu adorei, mas eu não tenho visto,
e quando eu vejo, eu não gosto. Mas eu acho que a minha decisão de não
fazer novela tem a ver com a minha excitação com os projetos de filmes,
cinema, e coisas com o momento do cinema brasileiro - que hoje nem está
tão bom, mas foi durante pouco tempo atrás, ainda bem!-, e a novela é um
comprometimento de tempo muito grande, toma muito tempo do ator. Eu
agora estou envolvido com televisão, com a Netflix, e apesar de ser uma
série, também tem o tempo de uma novela, que é um tempo muito gigante, e
sinceramente, também não é essa estética artística que eu estou
buscando pra eu me expressar.
Jean: Tem uma coisa de opção estética, também né?
Wagner: É, quando eu vejo Avenida Brasil,
eu falo: “Ah isso eu queria ter feito!” Agora o que está acontecendo na
televisão, especificamente na TV Globo, é uma valorização das séries,
da dramaturgia de série que eu acho muito boa, que você vê hoje em dia.
Tem muito mais séries sendo produzidas pela TV Globo, com padrão de
qualidade que está cada vez mais vai se elevando, com a chegada das TV’s
a cabo.
Jean: E a própria tecnologia mesmo, das câmeras...
Wagner:
Mas mais que isso, mais que além das câmeras, eu acho que há uma
tecnologia humana. O investimento em dramaturgia, em cursos e
palestras... Mas a gente tem que pensar que é recente o fato de a gente
ter acesso de forma tão rápida, e também tem a ver com essa área de ouro
da televisão americana. Hoje em dia a televisão americana é a reserva
criativa para o audiovisual mundial, não está mais no cinema americano,
mas na televisão feita nos Estados Unidos, pelos americanos, e isso está
chegando pra gente de uma forma muito rápida. Antigamente havia um
delay, hoje em dia você vê na mesma hora, e você vê tudo de uma vez, tem
a Netflix...
Então
eu acho que isso faz com que a TV Globo entenda que ela não disputa
com a Record, com o SBT, com a Band, ela disputa com a HBO, com a
Netflix... Tem um padrão estético, eu acho, da TV Globo, como uma
grande empresa mundial de televisão... Eu quase fiz agora o “Dois
irmãos”, do Luiz Fernando Carvalho, quase fiz. Não fiz porque eles
demoraram. Eu fiquei um tempão querendo fazer, querendo voltar, mas
quero fazer também uma coisa que me instigue. Não sei se eu ainda quero
contar a história do mocinho, da menina e do vilão, o folhetim. E a não
ser que ele seja subvertido de uma forma muito boa, como o que o João
Manoel Carneiro fez, eu não tenho mais interesse no que eu estou
assistindo.
Jean: Obrigado, nego. É isso...
Fonte: Top Magazine
Lindinhos né!
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