Wagner Moura, intérprete de Pablo Escobar em Narcos, estampa a capa da edição de agosto da Rolling Stone Brasil
Depois de conquistar a fama como Capitão Nascimento, Moura se estabelece como um dos melhores atores de sua geração ao mergulhar fundo outra vez no mundo das drogas – agora, interpretando Pablo Escobar, o maior traficante de todos os tempos.
por André Rodrigues
Wagner Moura está novamente mexendo com drogas. Em uma tarde
calorenta do inverno carioca, o ator baiano de 39 anos atravessa a sala
de uma agência de comunicação e diz: “Não suporto a luz crua de uma
lâmpada, assim como não suporto uma ação rude ou uma observação vulgar”.
Ele não sabe bem o porquê, mas decorou falas da personagem Blanche
DuBois, da peça Um Bonde Chamado Desejo. Seu improviso é tão
convincente que não seria loucura apostar que o sujeito responsável por
eternizar o rude Capitão Nascimento nos cinemas poderia um dia ser a
perturbada protagonista desse texto de Tennessee Williams. Com 23 anos
de carreira e reconhecido como um dos melhores atores de sua geração
(para muitos, o melhor), hoje Wagner Maniçoba de Moura deixa a impressão
de que poderia ser qualquer um, qualquer coisa. Mas, outra vez,
escolheu mergulhar no universo dos entorpecentes.
A partir do dia 28 de agosto, Moura será mundialmente visto na pele do
mais notório traficante de drogas de todos os tempos. Nessa data a
Netflix vai estrear os dez episódios da primeira temporada de Narcos,
série na qual ele incorpora o colombiano Pablo Escobar, chefe do Cartel
de Medellín. Até hoje, o maior papel de Wagner Moura foi o de um
policial que soltava o braço em cima dos distribuidores e consumidores
de substâncias ilícitas. O personagem central dos dois Tropa de Elite
(o segundo é a maior bilheteria da história do cinema nacional), ambos
dirigidos por José Padilha, virou símbolo de quem vê na violência do
Estado uma forma legítima e imprescindível de combater o crime. Agora,
Moura está do outro lado.
Por conta própria, o ator passou uma temporada em Medellín, na Colômbia,
e procurou durante quase dois anos entender profundamente as motivações
de sua nova cria. Mais perceptível, no entanto, é o fato de ele ter
ganhado 20 quilos. “As pessoas ficam muito impressionadas, mas é uma
besteira. Você não ganha o Oscar só engordando”, ele afirma, enquanto
come castanhas, amendoins e toma água. Em julho, Moura já havia perdido
seis quilos, mas não pode emagrecer muito porque logo deverá gravar a
segunda temporada do programa (a intenção dele, daqui para frente, é
usar preenchimentos e computação gráfica para ficar mais semelhante ao
Escobar da vida real).
“Eu, na minha idade, não tenho nenhuma vontade de fazer o que quer que
seja se não for pra ter um entendimento de alguma coisa, pra que aquilo
acrescente alguma coisa na minha vida, pra que faça eu me conectar com
algo que não sei o que é”, ele diz, explicando por que escolheu
protagonizar Narcos, que tem direção-geral do parceiro José Padilha. Depois de mais de duas dezenas de filmes (incluindo o internacional Elysium),
sete peças e duas novelas, Moura está querendo ficar cada vez mais
lento – “Cada dia mais próximo da Bahia”, declara. O projeto dele para
2016 é dirigir um filme sobre o guerrilheiro brasileiro Carlos
Marighella. Também está fazendo pesquisas com o diretor e roteirista
Karin Aïnouz. “Ficamos com muita vontade de entender o movimento das
igrejas neopentecostais e de ter um personagem que seja um pastor, um
bispo.”
Seja como Hamlet (2008), no teatro, seja como Olavo, na novela Paraíso Tropical
(2007), os personagens de Moura costumam combinar revolta com carência,
brutalidade com gentileza, raiva com compreensão. Parece que ele some
dentro de cada um para retornar logo depois e contar o que aprendeu,
como faz na entrevista que você lê na íntegra na edição 108 (agosto/2015) da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de segunda, 10. Abaixo, algumas das respostas de Moura.
Como é ter que dar sua opinião sobre legalização das drogas, narcotráfico e política por causa de um trabalho como ator?
Eu gosto disso. Não me incomoda nem um pouco. A discussão do Tropa de Elite foi saudável. Foi muito bom conversar com jornalistas nessas viagens que eu fiz para a Europa para lançar Narcos
e falar de uma realidade que eles veem de uma forma tão diferente. Pra
eles é mais difícil julgar a eficácia da guerra às drogas. Pra gente é
evidente que essa guerra não funciona quando você vê que no México 50
pessoas foram assassinadas de uma só vez. Quando eu vou lá para Berlim e
falo que sou a favor da legalização das drogas, esse é um tipo de
discussão que me parece boa. Outro dia uma menina norte-americana disse
assim: “Eu não sei se quero ver um junkie vomitar no meu milk-shake”. Eu
respondi que dá para lidar de alguma forma com isso. O que é difícil de
lidar é com jovens pobres da periferia de países latino-americanos
sendo assassinados e mortos nessa guerra. Então, o milk-shake é uma
coisa contornável.
Você acha que todas as drogas deveriam ser legalizadas?
Eu acho. Não sei como. Acho que as drogas são diferentes e deveriam
existir formas diferentes de tratar as diferentes drogas. Mas o que me
parece evidente é que essa política de enfrentamento das drogas é
ineficaz. E ela é ruim especialmente para nós, dos países mais pobres,
que são produtores e exportadores.
Sobre drogas, você sempre responde que já teve experiências e não fala mais sobre isso...
Exatamente. Por um lado, não me oponho a falar de política. Mas não
gosto de falar sobre a minha vida. Eu sou a favor da liberdade de cada
um ser quem é. Não venha me chantagear.
Mas continuam perguntando se você fuma maconha...
E eu continuo respondendo o que eu acho sobre legalização das drogas.
É isso que importa. A minha vida pessoal é minha vida pessoal. Por que
eu não falo com revistas de celebridades? Porque é esse tipo de pergunta
que elas iriam fazer. Então, não espero essa pergunta de outro tipo de
jornalismo.
Qual é a sua reação imediata quando te convidam para fazer um personagem como Pablo Escobar?
Eu quero fazer! Na época do capitão Nascimento, as pessoas diziam que
eu tinha humanizado o cara. Isso me parece tão doido. Eu não sei o que a
pessoa quer que o ator faça. Como é que ela imagina que seria? Será que
era pra ser um desenho animado? Eu não sei muito como responder. Mas
não quer dizer que eu não tenha um juízo sobre aquilo.
Você ficou com receio?
Fiquei. Porque o Escobar é, internacionalmente, um mito. É como
chamar um colombiano e falar que ele vai fazer a biografia do Pelé,
sendo que nem preto ele é. Então, foi a coisa mais difícil que já fiz. E
eles tinham acabado de ter aquele sucesso gigante da novela [Pablo
Escobar: O Senhor do Tráfico, exibida no Brasil pelo +Globosat]. Mas eu não queria decepcionar o Zé [Padilha]. Então, fui lá e fiz.
Vendo de fora os acontecimentos dos últimos dois anos, qual é a sua percepção?
Quando você vê as notícias que saem sobre o Congresso... A oposição
não vota nada pelo Brasil, ela vota contra o governo, contra o PT. É uma
guerra declarada. Ou quando o PMDB diz claramente nos jornais: “Governo
libera cargos do segundo escalão e PMDB vota a favor”. Que porra é
essa? E dessa forma explícita! Você dá um cargo e eu voto no seu
negócio. E a gente não se espanta!
Como é criar seus filhos no atual panorama do Rio de Janeiro?
Eu sinto que meus filhos vivem em uma bolha social. Isso me incomoda
muito. Pela minha própria origem, de eu ter vivido no sertão, ter um pai
que era sargento e uma mãe dona de casa. Eu não era pobre, mas tive uma
infância bem modesta. As minhas crianças vivem em um mundo em que elas
são muito alienadas. Elas veem gente na rua e acham que é assim mesmo,
por mais que você tente explicar e tal. Então, me dá muita pena quando
eu vejo esses articulistas de direita fazerem troça de qualquer vontade
que você tenha de conversar ou falar sobre isso com os filhos ou com as
pessoas. Falar que existem formas mais justas de convivência social,
mais honestas. O Brasil chegou num ponto tão engraçado que a moda hoje é
fazer pouco disso. Eu consegui prosperar na minha vida como artista,
tenho condições de pagar escola particular para meus filhos, mas se
falar sobre injustiça social sou considerado hipócrita. Entende o que
estou dizendo?
A questão é que você tem opiniões contundentes. E algum colunista vai escrever que você fala assim, mas faz filmes em Hollywood.
Pois é. É ridículo. Vamos lá. Você acha que o Brasil pode ser
socialmente mais justo? Eu acho. Você acha que as pessoas podem ter os
mesmos direitos civis? Eu acho. Você acha que a mulher tem direito a
abortar? Eu acho. Você acha que os homossexuais têm direito a se
casarem? Eu acho. Você acha que o governo tem que interferir quando há
um evidente caso de disparidade social? Acho. Você acha que há uma
dívida do estado brasileiro com a população negra do país? Eu acho. Tem
que ter cota? Tem. Isso é ser de esquerda? Se for, eu sou. Agora, meu
irmão, nunca assinei nenhum manifesto... Como assim [me dizer] “vai pra
Venezuela”?
O que acha da oposição política hoje no Brasil?
É uma oposição sem projeto, sem ideia, destrutiva. É uma oposição
golpista mesmo. E o Brasil tem uma tendência ao golpismo. O Brasil é um
país golpista. E é evidente que os jornais têm uma agenda. Não é
paranoia. Eu estou fora dessa onda de a esquerda ser vítima, vitimizada.
É pobre demais. O PT não tem a decência de fazer um mea culpa. O PSDB
não tem projeto para o Brasil. O projeto do PSDB é foder o PT.
E sobre os artistas, como Lobão e Roger, que estão em evidência defendendo a oposição?
Eu acho democrático. Você vê vários artistas pedindo o impeachment da
Dilma, que pra mim parece uma ideia estapafúrdia, golpista. Mas é a
opinião de uma galera que está aí vendo a decadência do PT e cai na
lábia do que lê por aí... Então, o lado que tradicionalmente se aliou ao
PT, ou à esquerda, está rendido. Muita gente não quer falar, tem
vergonha. Muita gente está decepcionada, ficou em xeque.
Leia mais perguntas e respostas de Wagner Moura na edição 108 (agosto/2015) da Rolling Stone Brasil, nas bancas a partir de segunda, 10.
Fonte: Revista Rolling Stone Brasil
Gosto muito do seu trabalho. É bom ver q alguém q a gente admira tem uma personalidade tão genial qto o seu trabalho. Um grande abraço!
ResponderExcluirGosto muito do seu trabalho. É bom ver q alguém q a gente admira tem uma personalidade tão genial qto o seu trabalho. Um grande abraço!
ResponderExcluirSos muy lindo! Me encantaste como capitan nascimento.. Me pareces Hermoso.. Y espero algun dia poder verte mas de cerca saludos desde argentina .
ResponderExcluir