Para Wagner Moura, "Praia do Futuro" é filme sobre abandono
No filme "Praia do Futuro", que estreia em 15 de maio, Wagner Moura
vive o salva-vidas Donato, que abandona o irmão mais novo, Ayrton
(Jesuíta Barbosa), em Fortaleza (CE), para viver um romance com outro
homem na Alemanha. Em entrevista coletiva sobre o longa, na tarde desta
terça (6), o ator afirmou que, para ele, a produção não deveria chamar
atenção pelo fato de seu personagem ser homossexual e, sim, por abordar a
questão do abandono.
"O Brasil é, sim, um país conservador, e,
para mim, isso [o personagem homossexual] não deve ser assunto. Para
mim, que sou pai de três filhos, foi muito mais forte o abandono do
Ayrton", diz Moura. Segundo afirma, o grande público pode até se chocar
com sua atuação, que contém cenas de sexo homossexual e nu frontal, mas
ele não se importa. "A resposta sincera é que tanto faz."
O Brasil é, sim, um país conservador, e, para mim, isso [o personagem
homossexual] não deve ser assunto. Para mim, que sou pai de três filhos,
foi muito mais forte o abandono do Ayrton
No filme, dirigido pelo cearense Karim Aïnouz, o salva-vidas Donato
trabalha na praia de mesmo nome, em Fortaleza (CE). Pela primeira vez em
sua carreira, ele falha ao tentar salvar uma pessoa de um afogamento e
conhece o amigo da vítima, o motoqueiro alemão Konrad (Clemens Schick).
Donato parte então para a Alemanha em busca de uma nova vida, deixando
para trás o irmão mais novo, que o idolatrava. Oito anos depois, Ayrton
parte para a Alemanha em busca do irmão mais velho.
De acordo
com Moura, classificar o seu personagem no filme como gay é algo
simplista. "Não é um personagem gay. É um personagem com tanta coisa... E
entre elas ele é gay. É só mais uma característica e não a identidade
dele", diz Moura, que completa: "Em certo aspecto, talvez seja o
personagem mais parecido com o Capitão Nascimento que eu fiz. Um
personagem homossexual, por exemplo, também pode ser viril e agressivo. O
Brasil é sim um país conservador e pode haver uma reação, mas isso não
deve ser assunto".
Por que ninguém pergunta como eu fiz para me preparar para interpretar
um personagem heterossexual? Quero ser idealista e pensar que talvez, no
futuro, esse tipo de pergunta nem seja levantada
Companheiro de elenco de Moura, o ator alemão Clemens Schick concorda:
"Você não pode rotular esses personagens de gays, mas vivemos em um
mundo no qual ser gay é errado", diz. "Por que ninguém pergunta como eu
fiz para me preparar para interpretar um personagem heterossexual? Quero
ser idealista e pensar que talvez, no futuro, esse tipo de pergunta nem
seja levantada". Segundo Clemens, as cenas íntimas com Moura foram
naturais depois da amizade forjada entre os dois.
"A diferença
produz tolerância", afirma o diretor Karim Aïnouz, tanto sobre o tema do
filme quanto sobre o fato de "Praia do Futuro" ser uma coprodução entre
Brasil e Alemanha, países sem laços culturais muito diretos. Ele diz
que não se sentiu fora de ambiente em nenhum momento. "Eu já passei por
tantos lugares que nem sei mais o que são terras estrangeiras".
"Para mim é um filme sobre raiva e tristeza, sobre como uma perda
inicial produz muita dor, mas também vida", afirma Aïnouz, que lidou com
temas semelhantes em filmes como "Madame Satã" e "O Céu de Suely". Ele
diz também que considera "Praia do Futuro" seu filme mais ambicioso até o
momento, pela narrativa cortada em dois países e momentos diferentes.
Dois idiomas
O jovem ator Jesuíta Barbosa, que
se destacou no filme "Tatuagem" e na minissérie "Amores Roubados", conta
que conseguiu aprender o idioma alemão e que está muito feliz com o seu
momento na carreira. "Eu nunca tinha saído do país antes do filme. Foi
muito novo e quero só aproveitar o que está acontecendo, aprender mais e
ficar mais forte".
Wagner Moura conta que tentou aprender
alemão, mas logo desistiu. "Falei para a professora, me mostre só como
falar essas falas aqui", lembra. "Nessa parte o Clemens me ajudou
bastante a trabalhar na pronúncia".
O ator alemão, que possui um
longo monólogo em português, contou que apenas conseguiu o feito
através de ensaios constantes, e que não aprendeu a falar português. "Em
uma cena à noite, na praia, eu não conseguia me expressar sem saber
falar. Foi frustrante".
"Ele disfarça, na verdade ele está
entendendo tudo", brinca Moura. O elenco garante que a dificuldade de
linguagem ajudou no próprio filme, afinal os personagens passam pelo
mesmo processo. "É um filme repleto de coisas ditas com o silêncio, no
olhar. São pessoas que se expressam pelo que elas fazem", diz Moura. O
ator também contou que, após o lançamento de "Praia do Futuro", embarca
para a Colômbia para filmar a série sobre Pablo Escobar produzida pelo
Netflix e dirigida por José Padilha.
Fonte:Uol
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