Ator volta a denunciar a corrupção na pele de um mafioso em 'Serra Pelada', a estreia da semana
Aclamado pelo papel do Capitão
Nascimento na franquia de Tropa de Elite, Wagner Moura volta a denunciar
a corrupção do Estado e a briga por poder em “Serra Pelada”.
Na superprodução, o ator dá vida a Lindo Rico, um cínico chefe de
garimpo que corrompe o delegado para eliminar a concorrência. O longa,
que retrata a corrida pelo ouro naquele que foi maior garimpo a céu
aberto do mundo, narra aventura de dois amigos paulistas que sonham
enriquecer. Nesta entrevista, Wagner conta que filmes como “O Poderoso
Chefão” e “Scarface” foram referências para o seu personagem e diz que a
experiência como produtor em “Serra Pelada” o ajudará muito a dirigir
seu primeiro filme, sobre o guerrilheiro Carlos Marighella, em 2014.
Como foi atuar e compor o seu personagem ao mesmo tempo em que você trabalhava como produtor?
A
minha participação nesse filme é muito maior como produtor do que como
intérprete. E eu sabia qual era a função do Lindo Rico na história.
Queria fazer aquele personagem funcionar no contexto da dramaturgia. Mas
é um projeto em que venho trabalhando há muitos anos com o Heitor
(Dhalia, diretor). Pude ter uma visão mais ampla nesse filme do que em
“Tropa de Elite 2”, em que eu filmava todos os dias. Em “Serra Pelada”,
filmei pouco, então pude acompanhar melhor e ficar em contato com o
Heitor. Sou um ator que tem muito interesse no que acontece ao redor.
Sempre tive. Depois que eu fiz Tropa, tive uma visão ainda mais ampla, o
que me ajuda muito. Até para enxergar o que acontece em um filme antes
de ir para o set. Eu acho que consigo ajudar, contribuir com as
produções desde a captação de verbas até a confecção do roteiro. O
Heitor me acolheu muito nesse sentido, o que me deu liberdade para
participar do processo. Isso vai me ajudar bastante no filme que vou
dirigir no ano que vem (a produção será baseada em “Marighella – O
Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, biografia de Carlos Marighella
escrita por Mário Magalhães vencedora do Prêmio Jabuti).
Foi você quem sugeriu a
inclusão do Lindo Rico na trama de “Serra Pelada” e é ele que mostra a
corrupção do Estado no contexto do garimpo. Esse também é o tema de
“Tropa de Elite 2”, do queal você também é produtor. A corrupção é um
tema caro a você?
(Bota as mãos no rosto e faz cara de
cansaço) Em todos os filmes que fiz depois de Tropa, as pessoas viram
alguma coincidência. Até em “O Homem do Futuro”. A ideia é que esse
personagem seja um antagonista. A caderneta que ele entrega ao delegado
quebra o Juliano (concorrente de Lindo Rico). Ele faz isso para tomar o
lugar do outro. A relação de corrupção com o policial é um fato naquela
região até hoje. O poder instituído, muitas vezes com relações
promíscuas com a autoridade, é explícito até hoje ali. Isso me
interessa. Eu gosto de política. Mas a minha motivação e a do Heitor com
este personagem foi absolutamente dramática. A gente poderia ter achado
outro jeito de fazer isso. É uma sucessão. O Lindo quer tomar o lugar
do Juliano, um pouco como em “Scarface” e em “O Poderoso Chefão”. O
personagem do Matheus (Nachtergaele) começa como chefão. Depois, o
Juliano toma o seu lugar e, em seguida, o meu personagem assume o
controle, que certamente será tomado por outro à frente nesse ciclo
corrupto e violento.
Você tem lembrança do noticiário da época ou de uma matéria que tenha te marcado sobre Serra Pelada?
Eu
nasci nos anos 1970. Era criança na época, mas recordo do Globo
Repórter sobre Serra Pelada e de matérias no Jornal Nacional. Depois que
eu fiquei adulto, as fotos do Sebastião Salgado me refrescaram a
memória. Mas lembro muito das pessoas falando sobre Serra Pelada e das
imagens do garimpo. Claro, por conta do filme, fui estudar e aprendi
mais sobre aquilo.
Durante algum tempo, os atores
viveram muito de televisão. Você acha que o cinema brasileiro está
chegando a um patamar que permita ao ator dedicar-se apenas aos filmes?
Eu
e o Júlio Andrade (protagonista de “Serra Pelada”) fizemos pouca TV. O
cinema vive um momento ótimo e a tendência é melhorar. A diversidade - e
há claramente uma diversidade estética grande no cinema brasileiro hoje
- é um sinal de maturidade. É sinal de um cinema que se estabelece como
uma indústria e, ao mesmo tempo, continua prezando por sua tradição de
ser político e autoral: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Tenho
tido cada vez mais interesse em participar de projetos como “Serra
Pelada”, que conseguem combinar entretenimento e, ao mesmo tempo, dizer
algo importante. Isso tem acontecido com mais frequência no cinema
nacional. É um mercado que vem crescendo para os atores. Essa
alternância com a TV e o teatro também é muito saldável para o ator. O
ruim era quando você tinha apenas uma opção para sobreviver, que era
fazer TV. Ela continua sendo o grande empregador dos atores no Brasil,
mas é muito importante que comece a haver outras possibilidades.
Fonte: Globo
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