Wagner Moura é campeão de público no cinema nacional

É recorrente a comparação entre Wagner Moura e Selton Mello, os dois "garotos de ouro" do cinema brasileiro. Volta e meia alguém insiste em colocar os dois atores lado a lado e avaliar qual deles é o mais talentoso, quem atrai mais público ou é garantia de sucesso. Tudo muito relativo, mas quando se fala de espectadores nos cinemas, não há o que questionar: Wagner Moura é o cara. Só com "Tropa de Elite 2", são 11 milhões de pessoas, o que equivale à soma de todo mundo que pagou ingresso para assistir aos filmes estrelados por Selton. "O Homem do Futuro", que estreia nesta sexta-feira (02), deve desequilibrar ainda mais a conta.

Rodrigo Santoro não entraria na disputa? Em termos de celebridade e talento, sem dúvida. Ator de produções celebradas, como "Abril Despedaçado", de Walter Salles, e "Bicho de Sete Cabeças", tem ainda a seu favor uma carreira internacional que lhe rende páginas e mais páginas na imprensa, mesmo que seus papéis tenham pouca ou nenhuma expressão. Prestígio que, no entanto, ainda não se traduziu em público no cinema nacional – sem contar "As Panteras Detonando" e "300", Santoro não tem nenhum grande sucesso de bilheteria no país. A exceção é "Carandiru", que provocou estrondo em 2003 com 4,6 milhões de espectadores, no qual interpretava um travesti. Mas é só. Wagner Moura, por isso, continua imbatível.

A relação do ator baiano com o cinema sempre foi intensa. Formado em jornalismo, trabalhou ao longo dos anos noventa com teatro e no fim da década chegou às telas em dois curtas-metragens. A estreia em longa foi, inversamente, muito pequena: uma ponta, falando inglês, na produção norte-americana "Sabor da Paixão" (2000) – primeiro trabalho hollywoodiano de Penélope Cruz –, interagindo com o amigo Lázaro Ramos e Murilo Benício.

A partir daí, não parou mais. No próximo ano integrou o elenco de "Abril Despedaçado" ao lado de Santoro, e, no seguinte, "As Três Marias", dirigido por Aluisio Abranches, pelo qual ganhou um prêmio no Cine Ceará. Em 2003, veio a virada. Wagner participou de "O Homem do Ano" e estreou como protagonista em "O Caminho das Nuvens", que rodou o mundo em festivais internacionais e lhe deu mais prêmios. Mais uma vez dividindo a cena com Santoro, "Carandiru" foi seu primeiro blockbuster. Era o prenúncio de uma relação duradoura com o público.

"Deus é Brasileiro", de Cacá Diegues, não fez tanto sucesso – foi visto por pouco mais de 1,6 milhão de pessoas –, mas serviu para apresentá-lo a Antonio Fagundes. O veterano astro da TV levou Wagner para o Globo e se abriu a janela para uma plateia muito maior: ele se tornou conhecido e passou a alimentar a ávida indústria das celebridades, uma cortesia Rede Globo de Televisão.

Wagner ainda não era uma estrela quando fez "Cidade Baixa" (2005) ao lado de Lázaro Ramos e Alice Braga, mas foi o filme que lhe rendeu as melhores críticas até então. O triângulo amoroso filmado por Sérgio Machado em Salvador ganhou prêmios, boa repercussão na imprensa estrangeira e foi, inclusive, exibido no Festival de Cannes. A julgar pelas fotos (veja na galeria), Wagner se divertiu bastante na riviera francesa.

Depois de uma novela e minissérie, se o ator já não era íntimo do telespectador brasileiro, ficou a partir do vilão de "Paraíso Tropical" (2007). Com "Tropa de Elite", então, se transformou num ícone. O filme de José Padilha só estreou em outubro, só que bem antes disso já era fenômeno de vendas entre os camelôs, graças a uma cópia não-finalizada que vazou. A primeira aventura do Capitão Nascimento, para muita gente o verdadeiro super-herói nacional, foi assistida por 2,5 milhões de pessoas nos cinemas, mas os produtores acreditam que o público total seja cinco vezes maior. Mais do um impacto cultural, o filme reverberou na indústria e acendeu a luz vermelha para a questão da pirataria.

"Tropa de Elite" estava por todos os lados, em textos, piadas, gírias e bares, com Wagner Moura no pilar de tudo isso. O sucesso popular e de crítica foi chancelado por um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo: em fevereiro de 2008, o filme ganhou o Urso de Ouro, premiação máxima do Festival de Berlim. "Tropa de Elite" era laureado e pop. Consagração completa.

O estrelato fez com que Wagner freasse a trajetória na televisão – seu objetivo era se dedicar a "trabalhos mais interessantes". Ele já havia filmado "Ó, Pai, Ó" e "Saneamento Básico", voltou aos cinemas com "Romance", de Guel Arraes, e deu um tempo. Retornou aos palcos com uma sonhada adaptação de "Hamlet" e ressuscitou sua banda de rock, Sua Mãe.

Pouco depois, retornou aos sets para filmar "Tropa de Elite 2" e, no ano passado, o fenômeno se repetiu. "Tropa 2" bateu recorde atrás de recorde: maior estreia de filme nacional, filme brasileiro mais visto e, finalmente, maior bilheteria de todos os tempos no país (R$ 104 milhões). A versão 2.0 do Capitão Nascimento conseguiu o feito de ser melhor recebida do que a primeira e Wagner se transformou em unanimidade. Se antes já era grande, a pilha de projetos na mesa do ator aumentou ainda mais.

2011 consolida a posição de Wagner Moura como uma estrela. No primeiro semestre, apareceu em "Vips", no qual se desdobrou no papel de um estelionatário famoso por seus disfarces – nisso, se divertiu com maquiagem, penteados e perucas. O filme teve desempenho regular (597 mil espectadores), mas bem acima da média do cinema nacional.

A prova de fogo acontece agora com "O Homem do Futuro". Mistura de ficção científica e comédia romântica, o filme tem a chancela de Cláudio Torres, diretor do sucesso "A Mulher Invisível" (com Selton Mello). Além da presença de Alinne Moraes e da chance de se assistir a uma história de viagem no tempo produzida no Brasil, "Homem do Futuro" vai entrar em cartaz no triplo de salas de "Vips", ou seja, com um alcance muito maior. Não seria nenhuma surpresa, portanto, se ele se tornasse um dos sucessos do ano, ao lado de "Cilada.com" e "De Pernas pro Ar".

A trajetória de Wagner Moura completa um ciclo com o início de sua carreira internacional. O ator está atualmente no Canadá filmando "Elysium", ficção futurista no qual interpreta o vilão. O longa-metragem tem a direção de Neill Blomkamp ("Distrito 9") e conta com Matt Damon e Jodie Foster no elenco. Wagner pode não ter a pinta de galã latino de Rodrigo Santoro, mas "Elysium" oferece uma chance concreta para que o brasileiro desponte em Hollywood.

Fonte: Correio do Estado

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