Entrevista com Wagner Moura
Um dos atores de maior destaque da sua geração, Wagner Moura demonstra talento a cada personagem que faz. Por ser baiano, tive a oportunidade de vê-lo começar: literalmente. Fui sua contemporânea do colégio Mendel, onde ele teve seu primeiro grupo de teatro amador, o Pasmem. Das primeiras peças de teatro, comerciais e filmes, não demorou muito até o reconhecimento nacional. Wagner já fez cinema, especiais de televisão, novelas, peças e dispensa qualquer apresentação. Agora, recebeu seu primeiro convite de Hollywood, onde irá ser um vilão do filme Elysium, dirigido por Neill Blomkamp (Distrito 9) e que tem ainda no elenco Matt Damon e Jodie Foster. Mas, antes, ele é Marcelo, o protagonista de VIPs, que ele ressalta não ter muito do Marcelo da Rocha real. Na pré-estreia do filme em Salvador, pude conversar um pouco com ele. Vejam como foi.
Como é ser VIP?
- Não sei o que é isso direito. O que quer dizer isso, né?
Pois é, o que é para você?
- Eu tenho meio que aversão a isso. Nunca vou nesses eventos grandes que tem aquele montão de gente dançando e um cercadinho assim com os VIPs. Eu não queria tá dentro daquele cercadinho não, acho muito careta aquilo.
A pergunta é porque a grande busca do seu personagem, junto com se encontrar, é ser reconhecido, certo? É ser VIP.
- É... tem, ele quer ser reconhecido. Mas, acho que mais do que ser reconhecido ele quer se reconhecer. Ele quer saber quem ele é. Mas, claro que ele quer ser reconhecido também, especialmente pela mãe. A mãe dele tem um papel bem importante na história dele. Porque a gente quer muito agradar nossos pais. O olhar da mãe é um olhar muito definidor do que a gente é. E aquela mãe tem um olhar muito torto. Ela está sempre dizendo “você vai querer ser sempre um Zé ninguém”. Fala literalmente isso. Tem uma cena muito bonita, a que eu mais gosto no filme, que é quando eles se encontram no salão de cabeleleiro. Está chovendo e ela fala: "por que você é assim?" E ele fala: "assim como? Como é que eu sou". Então, acho que é alguém que está se procurando, que na verdade todos nós estamos em nossa vida. Só que a gente bota uma lente de aumento nele. Esse cara é, evidentemente, alguém que não está no mesmo terreno de entendimento da realidade que a gente está.
E a sua composição para o personagem, você não quis conhecer o Marcelo real. Qual foi a opção?
- É porque quando eu vi a história do roteiro do Braulio Mantovani, era essa a história que eu estava lendo. Bom... que história linda, a história de um menino que se procura, que se busca, que quer entender o que ele é. A história do Marcelo da Rocha, simplificando-a, é a história de um estelionatário.
Você já conhecia a história do Marcelo da Rocha?
- Eu só conhecia o episódio da Gol. Mas, é a história de uma pessoa que se passa por outras para tirar vantagens. E, você viu o filme, não é isso que acontece lá. É a história de um menino que vai sendo, ele vai se buscando, existindo no universo daqueles heterônimos dele. Então é isso. Eu procurei não saber nada, porque não era sobre aquilo que eu estava querendo falar.
Você teve aulas de aviação para o papel, como foi a experiência? Tem alguma vontade de pilotar aviões?
- Ah, foi ótimo. Eu gosto de voar, acho um barato. Que coisa bacana você poder aprender a pilotar um avião, né? Essa é a coisa boa do trabalho de ator.
Toniko Melo está em seu primeiro longametragem solo. Como foi trabalhar com ele?
- A gente foi muito cúmplice nesse caminho que a gente trilhou com o nosso Marcelo. O caminho da ficção. O Toniko foi muito parceiro no sentido de não querer satisfazer àqueles que esperavam um filme sobre um bandido, sobre um 171. Deixa eu dizer que essa escolha não é uma escolha moral, é uma escolha estética. E o Toniko foi muito cúmplice meu e o Bráulio Mantovani. O tempo todo.
E o estilo de dirigir dele ajuda ao ator?
- Sim, super. Eu não sei como se faz um filme em que o ator e o diretor não sejam parceiros.
Você já fez quase vinte filmes, várias peças e duas novelas, mas parece que sempre vão te associar ao Capitão Nascimento. Você chegou a temer ficar marcado com o papel?
- Não, acho assim, talvez soe um pouco pretensioso, mas eu existia muito bem como ator antes do Capitão Nascimento, que foi em 2006. Não estou negando a importância que Nascimento tem na minha vida, ele é ótimo, sou orgulhoso dos dois Tropas de Elite que eu fiz, mas eu não me preocupo com isso porque acredito que sou capaz de fazer outras coisas.
E para não perder a deixa, como é construir um personagem que seria secundário e vira protagonista na sala de montagem?
- Eu acho uma coisa muito interessante essas duas dimensões que Nascimento tem. A dimensão política que é muito forte e a dimensão cultural. Ele se tornou um personagem da cultura pop brasileira e talvez um dos mais fortes. Me agrada muito fazer parte de um projeto assim. Acho que é a hora do nosso cinema, e acho que VIPs se insere nesse contexto, de a gente fazer filmes de qualidade, bem feitos, bem produzidos, com boas atuações, bons roteiros e que traga o público para ver o filme, que tenha um bom potencial de bilheteria. Filmes que sejam comerciais e não sejam bobagens.
Já que você falou em cinema nacional. Você é baiano, sei que você está sempre por aqui, ajudando produções independentes. Vi o curta da Kabum que você fez a narração. Como você vê o cinema local?
- Eu não tenho visto os últimos filmes baianos. O último que eu vi foi um filme extraordinário que foi do Edgar Navarro: Eu me Lembro. Não vi o filme de João Rodrigo, Trampolim do Forte, que soube que é muito bom. Tem também o filme do Pola, Jardim das Folhas Sagradas que eu não consegui ver. Teve lá no Rio, mas eu não consegui ver. E sei de uma galera que está se organizando. Acabei de receber aqui uma caixa com os cem anos do cinema na Bahia. Uma caixa sensacional, com os filmes de Roberto Pires, tem A Grande Feira, o Mágico e o Delegado, o próprio Eu me lembro, enfim, vários filmes baianos muitos bons e você vê que a Bahia tem tradição.
Você já fez vários especiais em televisão, mas telenovelas foram apenas duas. Gosta do formato?
- Eu adorei. Fiz duas novelas que adorei ter feito, quero fazer mais, mas agora não. Agora, não estou querendo fazer nem novela nem teatro. Quero ficar agora um tempo fazendo filme. Acho que o momento nosso é muito bom. O momento de fazer esse tipo de filme que eu falei, que alie qualidade com potencial de público. A hora é essa, eu quero fazer parte dessa hora.
E agora, você foi convidado para fazer um filme em Hollywood. Como está vendo essa expectativa?
- Normal, foi o primeiro convite bom que eu recebi para filmar fora e aceitei na hora.
Mas, pretende investir na carreira por lá como Rodrigo Santoro e Alice Braga?
- Não. Eu quero morar aqui.
Quer continuar fazendo filmes nacionais.
- Quero. Mas, Alice e Rodrigo de certa forma estão sempre fazendo filmes aqui. Talvez a diferença é que eles tenham se mudado e ido morar lá. E eu não quero morar lá, quero morar aqui. Mas, são atores que sempre estão filmando aqui também.
Você se considera um profissional realizado? Que sonho lhe falta?
- Não, mas nem saberia dizer o que falta. Acho que o cara que diz "estou realizado", pára.
Fonte: Cine Pipoca Cult
Como é ser VIP?
- Não sei o que é isso direito. O que quer dizer isso, né?
Pois é, o que é para você?
- Eu tenho meio que aversão a isso. Nunca vou nesses eventos grandes que tem aquele montão de gente dançando e um cercadinho assim com os VIPs. Eu não queria tá dentro daquele cercadinho não, acho muito careta aquilo.
A pergunta é porque a grande busca do seu personagem, junto com se encontrar, é ser reconhecido, certo? É ser VIP.
- É... tem, ele quer ser reconhecido. Mas, acho que mais do que ser reconhecido ele quer se reconhecer. Ele quer saber quem ele é. Mas, claro que ele quer ser reconhecido também, especialmente pela mãe. A mãe dele tem um papel bem importante na história dele. Porque a gente quer muito agradar nossos pais. O olhar da mãe é um olhar muito definidor do que a gente é. E aquela mãe tem um olhar muito torto. Ela está sempre dizendo “você vai querer ser sempre um Zé ninguém”. Fala literalmente isso. Tem uma cena muito bonita, a que eu mais gosto no filme, que é quando eles se encontram no salão de cabeleleiro. Está chovendo e ela fala: "por que você é assim?" E ele fala: "assim como? Como é que eu sou". Então, acho que é alguém que está se procurando, que na verdade todos nós estamos em nossa vida. Só que a gente bota uma lente de aumento nele. Esse cara é, evidentemente, alguém que não está no mesmo terreno de entendimento da realidade que a gente está.
E a sua composição para o personagem, você não quis conhecer o Marcelo real. Qual foi a opção?
- É porque quando eu vi a história do roteiro do Braulio Mantovani, era essa a história que eu estava lendo. Bom... que história linda, a história de um menino que se procura, que se busca, que quer entender o que ele é. A história do Marcelo da Rocha, simplificando-a, é a história de um estelionatário.
Você já conhecia a história do Marcelo da Rocha?
- Eu só conhecia o episódio da Gol. Mas, é a história de uma pessoa que se passa por outras para tirar vantagens. E, você viu o filme, não é isso que acontece lá. É a história de um menino que vai sendo, ele vai se buscando, existindo no universo daqueles heterônimos dele. Então é isso. Eu procurei não saber nada, porque não era sobre aquilo que eu estava querendo falar.
Você teve aulas de aviação para o papel, como foi a experiência? Tem alguma vontade de pilotar aviões?
- Ah, foi ótimo. Eu gosto de voar, acho um barato. Que coisa bacana você poder aprender a pilotar um avião, né? Essa é a coisa boa do trabalho de ator.
Toniko Melo está em seu primeiro longametragem solo. Como foi trabalhar com ele?
- A gente foi muito cúmplice nesse caminho que a gente trilhou com o nosso Marcelo. O caminho da ficção. O Toniko foi muito parceiro no sentido de não querer satisfazer àqueles que esperavam um filme sobre um bandido, sobre um 171. Deixa eu dizer que essa escolha não é uma escolha moral, é uma escolha estética. E o Toniko foi muito cúmplice meu e o Bráulio Mantovani. O tempo todo.
E o estilo de dirigir dele ajuda ao ator?
- Sim, super. Eu não sei como se faz um filme em que o ator e o diretor não sejam parceiros.
Você já fez quase vinte filmes, várias peças e duas novelas, mas parece que sempre vão te associar ao Capitão Nascimento. Você chegou a temer ficar marcado com o papel?
- Não, acho assim, talvez soe um pouco pretensioso, mas eu existia muito bem como ator antes do Capitão Nascimento, que foi em 2006. Não estou negando a importância que Nascimento tem na minha vida, ele é ótimo, sou orgulhoso dos dois Tropas de Elite que eu fiz, mas eu não me preocupo com isso porque acredito que sou capaz de fazer outras coisas.
E para não perder a deixa, como é construir um personagem que seria secundário e vira protagonista na sala de montagem?
- Eu acho uma coisa muito interessante essas duas dimensões que Nascimento tem. A dimensão política que é muito forte e a dimensão cultural. Ele se tornou um personagem da cultura pop brasileira e talvez um dos mais fortes. Me agrada muito fazer parte de um projeto assim. Acho que é a hora do nosso cinema, e acho que VIPs se insere nesse contexto, de a gente fazer filmes de qualidade, bem feitos, bem produzidos, com boas atuações, bons roteiros e que traga o público para ver o filme, que tenha um bom potencial de bilheteria. Filmes que sejam comerciais e não sejam bobagens.
Já que você falou em cinema nacional. Você é baiano, sei que você está sempre por aqui, ajudando produções independentes. Vi o curta da Kabum que você fez a narração. Como você vê o cinema local?
- Eu não tenho visto os últimos filmes baianos. O último que eu vi foi um filme extraordinário que foi do Edgar Navarro: Eu me Lembro. Não vi o filme de João Rodrigo, Trampolim do Forte, que soube que é muito bom. Tem também o filme do Pola, Jardim das Folhas Sagradas que eu não consegui ver. Teve lá no Rio, mas eu não consegui ver. E sei de uma galera que está se organizando. Acabei de receber aqui uma caixa com os cem anos do cinema na Bahia. Uma caixa sensacional, com os filmes de Roberto Pires, tem A Grande Feira, o Mágico e o Delegado, o próprio Eu me lembro, enfim, vários filmes baianos muitos bons e você vê que a Bahia tem tradição.
Você já fez vários especiais em televisão, mas telenovelas foram apenas duas. Gosta do formato?
- Eu adorei. Fiz duas novelas que adorei ter feito, quero fazer mais, mas agora não. Agora, não estou querendo fazer nem novela nem teatro. Quero ficar agora um tempo fazendo filme. Acho que o momento nosso é muito bom. O momento de fazer esse tipo de filme que eu falei, que alie qualidade com potencial de público. A hora é essa, eu quero fazer parte dessa hora.
E agora, você foi convidado para fazer um filme em Hollywood. Como está vendo essa expectativa?
- Normal, foi o primeiro convite bom que eu recebi para filmar fora e aceitei na hora.
Mas, pretende investir na carreira por lá como Rodrigo Santoro e Alice Braga?
- Não. Eu quero morar aqui.
Quer continuar fazendo filmes nacionais.
- Quero. Mas, Alice e Rodrigo de certa forma estão sempre fazendo filmes aqui. Talvez a diferença é que eles tenham se mudado e ido morar lá. E eu não quero morar lá, quero morar aqui. Mas, são atores que sempre estão filmando aqui também.
Você se considera um profissional realizado? Que sonho lhe falta?
- Não, mas nem saberia dizer o que falta. Acho que o cara que diz "estou realizado", pára.
Fonte: Cine Pipoca Cult
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