Filme sobre trambiqueiro do Recifolia faz sucesso na Mostra de Tiradentes


Vips, primeiro longa-metragem solo do diretor Toniko Melo, foi recebido com entusiasmo pelo público na Mostra de Cinema de Tiradentes. Além da informação de que Wagner Moura – o popular capitão Nascimento de Tropa de elite – era o protagonista da trama, pouco se sabia a respeito do filme, que venceu em quatro categorias o Festival do Rio do ano passado, entre eles o de melhor filme. Para satisfação dos espectadores, inclusive os mais rigorosos, o que se viu foi um drama psicológico com acabamento de alto nível, roteiro com ritmo de aventura policial norte-americana e narrativa permeada por situações hilariantes. Essa combinação de códigos agradou à plateia e o diretor não esconde o otimismo com os resulta dos do trabalho, finalizado nos Estados Unidos.

“Quando recebemos a primeira cópia, toda a equipe foi para uma sala especial de exibição em São Paulo. Naquele momento, pudemos comprovar a força técnica e a qualidade do som, que são tão importantes para um filme quanto ter uma boa história. Ficamos muito felizes e vimos que era uma experiência sem volta”, diz Toniko.

No centro da trama, Marcelo da Rocha (Wagner Moura) é um jovem que tem dificuldade em lidar com a própria identidade. Desde a adolescência, confunde sua história com a de colegas em sala de aula. Sua mãe, interpretada por Gisele Fróes, é uma cabeleireira de classe média baixa, que não se dá conta da gravidade dos problemas que o filho enfrenta desde criança. Impotente diante da desordem emocional de Marcelo, ela opta pela superficialidade do ambiente glamouroso de que ela finge desfrutar por meio de recortes de revistas e programas de televisão sobre celebridades. Em busca do sonho de ser piloto de avião, Marcelo foge de casa e passa a assumir diferentes personalidades. Inteligente e habilidoso, chega ao limite de se passar por Henrique Constantino, empresário filho do dono de uma companhia aérea, em uma festa nos camarotes do Recifolia.

Embora esse último golpe tenha de fato ocorrido e Marcelo da Rocha esteja cumprido pena em presídio em Tocantins pelo crime que cometeu, Toniko Melo garante que o filme é essencialmente ficção. “Sequer quis conhecer pessoalmente o verdadeiro Marcelo. O que realmente ocorreu com ele são tangências na trama”, diz o diretor, que também assina o argumento com Bráulio Mantovani. A cineasta e pesquisadora Mariana Caltabiano, diretora dos infantis Brasil animado e Gui, Estopa e a natureza, foi quem, há sete anos, apresentou a Toniko a história surpreendente de um farsante que enganou inclusive o apresentador Amauri Jr., que o entrevistou para programa ao vivo como Henrique Constantino. “Amauri foi muito generoso ao vir a público reconhecer que cometeu um erro. A partir desse momento o escândalo assumiu outra proporção”, lembra o diretor.

Quando o projeto para o longa começou a ser desenhado, Toniko não teve dúvidas de que aquele era um acontecimento mais que inusitado, mas descartou a possibilidade de um documentário. Para o cineasta, pensamento de Jung que ele descobriu numa pichação, em Londres, em 1999, se somou ao contexto de criação de Vips. “Aquilo que fazemos de forma não consciente surge depois como destino” era a chave para decifrar o ambiente psicológico não apenas de Marcelo da Rocha, mas também de Toniko Melo, como diretor.

Parceiro e amigo de Fernando Meirelles, Walter Salles e José Padilha, ele estreia na direção de um longa-metragem como quem deseja contribuir para abertura do diálogo entre o cinema e seu público no Brasil. “Essa é a tônica que marca a produção contemporânea de uma geração que não quer mais essa história de que os diretores fazem filmes para si mesmos, sem se preocupar com a opinião ou o gosto do público”. A consequência desta mudança de mentalidade se confirma em fenômenos como o ocorrido com Tropa de elite, de José Padilha, cuja audiência superou megaproduções internacionais, como Avatar. “Mente ou se engana quem desconsidera essa realidade”, diz Toniko.

Intérprete de Sandra, a mulher que vive breve romance com Marcelo em Vips, a atriz Arieta Corrêa concentrou no olhar a intensidade dramática de sua personagem. Única a descobrir que o Henrique Constantino que participava da festa era uma farsa, ela não só se envolve com o desconhecido como o protege. Frustrada com o relacionamento humilhante com o marido, Sandra confronta o vazio existencial da sociedade de consumo e a oportunidade de se fazer notar. Para ela, a loucura de Marcelo era melhor que a sanidade fútil dos que faziam parte de seu cotidiano. “Só o olhar seria capaz de condensar um tipo de dramaticidade que não se expressa em palavras”, explica a atriz.

Fonte: Por Janaina Cunha Melo, do Portal Uai
Via Pernambuco.com

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