José Padilha antecipa ao GLOBO detalhes de 'Tropa de elite 2', que roda em janeiro e lança em agosto de 2010
Bastou o site Filme B noticiar, na terça-feira, o custo (R$ 16 milhões) e a data de estreia (13 de agosto de 2010) de "Tropa de elite 2" para as especulações acerca do regresso do capitão Nascimento dispararem. Com uma velocidade similar àquela em que as cópias piratas do primeiro filme se espalharam de camelô em camelô país afora, correm pela internet versões variadas da trama que José Padilha filma de 14 de janeiro a 13 de março. Além de assinar o longa-metragem como coprodutor, Wagner Moura volta ao papel que imortalizou no cinema.
- Faltou dizer algo no primeiro filme. Não se falou da mudança radical da situação da segurança pública no Rio com a chegada das milícias. Que mudança foi essa? - pergunta Padilha, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim com "Tropa de elite", em 2008. - O que acontece com um local onde existe a Polícia Militar, quando surgem organizações de milicianos que operam como a máfia.
Padilha nega a hipótese de que Selton Mello estaria em "Tropa de elite 2", cujo enredo avança até 15 anos depois da conclusão do primeiro longa.
- Eu queria ter o Selton, que é um ator maravilhoso. Mas ele filma o novo longa dele (como diretor) na mesma época em que a gente começa a rodar. Já tínhamos um elenco muito bacana no primeiro filme. Para entrar alguém, tem que ser alguém que some, como Selton poderia somar, ou como João Miguel, que está confirmado, ao lado do Wagner, do Milhem Cortaz (o corrupto capitão Fábio) e do André Ramiro, que foi o Matias, verdadeiro protagonista do "Tropa 1", em contraste com Nascimento, que era mais um narrador - diz o cineasta, que mantém em sigilo o papel confiado a João Miguel.
Segundo o cineasta, é "cascata" a tese de que o capitão Beto Nascimento retornaria à telona como secretário de Segurança do Rio. Ele nega também a notícia de que o roteiro (ainda em fase de acabamento) abordaria o sequestro do filho de Nascimento com Rosane (Maria Ribeiro). Seu novo filme tem outro alvo, que vai exigir uma estrutura narrativa diferente da do longa anterior, novamente fotografado por Lula Carvalho e montado por Daniel Rezende.
- É essa forma nova que nós, eu, Marcos (Prado, produtor), Braulio (Mantovani, roteirista) e o Wagner, estamos procurando. Quando a trama de "Tropa 1" acontece, o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) tem cerca de cem homens. Como fica a situação do batalhão com 400 homens? "Tropa de elite 2" vai se passar no presente, olhando para o futuro. Mais importante do que apontar historicamente a formação das milícias no Rio é entender as consequências que elas geraram - diz o diretor, que usará R$ 12 milhões na produção, mais R$ 4 milhões de comercialização.
Em "Tropa de elite 2", Padilha vai além do Bope e fala da Polícia Civil carioca.
- Conversando com antigos secretários de Segurança, eles me disseram que, no passado, se a Civil entrasse em guerra, pouca coisa mudava na cidade, pelo menos na primeira semana. Já se a PM fizesse greve, seria um caos. Hoje, é diferente. A Civil é mais necessária, porque é ela quem combate as milícias, como nas ações da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado).
Em 2007, três meses antes da estreia de "Tropa de elite", a pirataria fez do filme um fenômeno cultural (e comercial) no país. Na época, estimava-se que 7,5 milhões de brasileiros assistiram ao filme ilegalmente. Como evitar o ataque pirata agora, Padilha?
- Vamos fazer tudo (o processo de finalização) fora do Brasil. Só chego aqui com o interpositivo (base para a geração das cópias dos filmes), revelo e lanço. A melhor maneira de nos protegermos é fazer todos os processos que correm o risco de deixar o filme vazar em algum lugar onde as pessoas não estejam tão interessadas por ele quanto nós - diz Padilha, que não conta com distribuidor.
Só 40% do orçamento vêm de recursos captados por leis de incentivo. O restante são recursos diretos de investidores.
Além de "Tropa de elite 2", Padilha tem finalizado o documentário "Secrets of the tribe", ligado aos estudos sobre os índios ianomâmis, que inscreveu no Festival de Sundance, agendado para janeiro em Utah, nos EUA. O cineasta tem ainda três filmes para dirigir no exterior - "Marching powder", com Don Cheadle; "Agent in place", longa escrito por Mantovani, e "The Sigma protocol ", baseado na literatura de Robert Ludlum -, fora um dos episódios do projeto "Rio, eu te amo". Já "Nunca antes na História deste país", sobre a política nacional, terá de esperar o processo eleitoral.
- Ele envolve o escândalo do Mensalão. Não dá para fazer antes das eleições.
Fonte: O Globo Online
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