Wagner Moura atua, traduz e produz em nova montagem de "Hamlet"



Se existe algo do qual o ator Wagner Moura não pode ser acusado é de não gostar de desafios: além de decidir interpretar o papel principal de "Hamlet", um dos mais conhecidos e estudados do teatro, ele assumiu a produção da montagem que está em cartaz no Teatro Faap, em São Paulo. Como se não bastasse, ele e os outros nove atores da peça representarão uma novíssima tradução do texto de William Shakespeare, feita pelo próprio Moura com a ajuda da professora Barbara Harrington e revisão final de Aderbal Freire-Filho, que dirige a montagem.

"Eu admiro muito os atores que conseguem gerir suas carreiras, até hoje só tinha trabalhado para os outros", disse Moura durante entrevista coletiva realizada para divulgar a peça.

"Mas dessa vez eu quis fazer isso não por capricho, mas por pura necessidade: ninguém 'chama' você para representar Hamlet, então tive que fazê-lo eu mesmo."

Nova tradução

"Hamlet" conta a famosa história do príncipe da Dinamarca que reluta em vingar o assassinato do pai, orquestrado por seu tio Cláudio. Em dúvida se deve acreditar no fantasma do rei, que lhe diz para matar o tio, Hamlet decide comprovar a culpa de Cláudio montando uma peça em que é encenado um assassinato semelhante - baseado na reação do tio, ele decidirá se o mata ou não. Escrita na virada do século 16 para o 17, é a peça mais longa de William Shakespeare e contém a clássica cena do questionamento de Hamlet sobre a mortalidade: "Ser ou não ser, eis a questão".

Tanto Wagner Moura quanto Aderbal Freire-Filho concordaram que era necessário "trazer o texto para mais perto do presente", ainda que isso não significasse modificar o original. "A nossa versão é fidelíssima, mas fidelíssima a Shakespeare, não às traduções para o português do século 18, que tornaram as falas muito rebuscadas", explica o diretor. "Nossa intenção não foi 'coloquializar' o texto, a poesia está toda lá, mas é uma poesia da simplicidade, como no original." Wagner Moura completa:

"É um texto para ser falado, mais do que lido; com Shakespeare também foi assim, ele escreveu primeiro para o teatro, depois tornou-se um cânone literário".

Ser ou não ser acessível

Mais do que a nova tradução, a simplicidade e a "capacidade de comunicar" são apontadas por Wagner Moura e Aderbal Freire-Filho como os diferenciais que procuraram imprimir a este "Hamlet". O cenário é enxuto, com pouquíssimos objetos de cena e eventuais intervenções de vídeo, e em cada lado há uma coxia cênica, o que mantém os atores no palco todo o tempo. Os figurinos, criados por Marcelo Pies, misturam elementos de época com atualidade, colocando a história em um lugar indefinido no tempo.

Um ano de Hamlet

O trabalho de Wagner Moura em "Hamlet" começou em outubro de 2007, quando decidiu levantar recursos para a peça ao lado do produtor Sérgio Martins. Aderbal Freire-Filho, que havia dirigido "Dilúvio em Tempos de Seca" em 2004 (último trabalho de Moura no teatro antes de "Hamlet"), interessou-se em dirigir a empreitada, e o elenco foi escalado na base da confiança - parte dos atores faz parte da mesma geração de teatro de Salvador na qual Wagner Moura se formou, outros já trabalhavam com o diretor em projetos anteriores.

Em janeiro do ano passado, começaram os trabalhos de tradução, e em fevereiro os primeiros ensaios no Galpão Solar, no Rio de Janeiro. "O que não quer dizer que traduzimos tudo em um mês", explica o diretor. "Na primeira leitura, demos uma tradução diferente para cada ator, só fomos ter um ato pronto dali a quinze dias, e assim fomos."

A peça estreou em junho do ano passado, no teatro Faap em SP. A escolha da cidade para a estreia, segundo Wagner Moura, foi pelo fato que "em São Paulo, existe uma relação real com o público nesse tipo de teatro, coisa que no Rio de Janeiro já não acontece tanto, você fica restrito a um nicho".

Fonte: Nordeste Web
Texto editado por Andressa Santos

Comentários

Postagens mais visitadas