Wagner pode tudo - Isto É Gente




O ator Wagner Moura, que brilhou como Olavo em Paraíso Tropical, se diz surpreso com as reações ao filme tropa de elite e fala de corrupção e legalização das drogas

O vilão pode tudo”, diz Wagner Moura sobre Olavo, seu personagem mau em Paraíso Tropical e que ainda assim teve torcida a favor de um final feliz com a Bebel de Camila Pitanga. Quem parece poder tudo mesmo é o próprio ator. Mesmo sendo um vilão na novela das oito, ele foi contratado para grandes campanhas publicitárias, papel normalmente exclusivo dos mocinhos. Apesar do sucesso, Wagner Moura acaba de recusar um contrato longo com a Rede Globo.

“É tão bom você se sentir livre e poder fazer o que quiser, sem ter de pedir para ninguém”
, diz o ator de 31 anos, demonstrando, porém, não ter muita certeza da decisão. Junto com o final da novela, Wagner Moura viu-se em novo furacão.

Sua atuação como o violento Capitão Nascimento, do Batalhão de Operações Policiais Especiais,
foi a única unanimidade no polêmico Tropa de Elite, de José Padilha. Ler artigos como o do colunista Arnaldo Bloch, de O Globo, que sugeria que o filme era fascista, surpreendeu Wagner. Ele respondeu com um artigo para o mesmo jornal, no qual defendeu a legalização das drogas. Foi com a mesma disposição e opiniões fortes – mas sempre com o jeito tranqüilo e sotaque malemolente de baiano – que ele conversou com Gente, em São Paulo.

Seu próximo projeto não é nem tevê nem cinema. Primeiro, ele vai curtir férias com a mulher, a fotógrafa Sandra Delgado, e o filho Bem, de pouco mais de 1 ano – um bebê protegido com garra pelo pai famoso, que fica muito incomodado ao falar sobre sua vida familiar. Depois, Wagner parte para um próximo desafio: encarnar Hamlet no teatro, dirigido por Aderbal Freire-Filho.


“Nunca pensei que fosse fazer Hamlet porque sempre achei que Hamlet era impossível. E é. Vou fazer o meu. Não será o Hamlet perfeito, mas será o nosso ponto de vista”
, diz o ator, que ainda quer mais.
“Nossa idéia é fazer um Hamlet popular, o que é uma coisa muito louca.”

Mas ele é Wagner Moura, e Wagner Moura está podendo.

Esperava tanto barulho assim em relação ao filme?
Esperava. Desde que li o roteiro, achei que era um filme polêmico. O que me surpreendeu e me desagradou é essa confusão primária que tem sido feita entre o olhar dos personagens, de como pensa um policial brasileiro do Batalhão de Operações Especiais, com o que pensa o realizador do filme.


Foi por causa disso que escreveu o artigo para O Globo?
Essa história começou a me incomodar muito. E aí o Arnaldo Bloch escreveu um artigo com o título: “Tropa de Elite é fascista?”. Tomei um susto. Porque pensei: não fiz um filme fascista. É um filme que traz um ponto de vista importantíssimo para discutir violência no Brasil. E foi um dos motivos por que eu quis fazê-lo. Tem-se falado muito sobre a reação de algumas pessoas. É legítimo o cara ver o filme e achar que a solução para a violência no Brasil é a força, porque a gente vive num país em que esse problema é grave e não há política de segurança pública. Mas eu não penso assim. E foi isso que quis dizer
com aquele artigo.

Você se disse a favor da legalização das drogas. Como fica essa mão-de-obra do tráfico?
Discute-se muito isso: para onde vai essa mãode- obra de bandidos que trabalha no tráfico se for legalizado? Não sei. Mas combater o tráfico com repressão não tem funcionado. E não é possível que só eu esteja vendo isso. A legalização não pode ser feita num estalar de dedos.

Mas é hipocrisia não discutir. O consumo de drogas existe. O consumidor tem responsabilidade, sim. Mas é uma tomada de atitude individual. O cara pensa: “Não posso comprar droga no morro porque estou contribuindo com essa parada”. Mas tem outro que diz: “Pago imposto, sou honesto, vou fumar meu bagulho”. Pragmaticamente, não é isso que vai funcionar.


Já sofreu com a corrupção policial?
Na época do Pan, meu carro estava com o IPVA atrasado em um mês. O policial disse: “Vou ter que levar seu carro”. Eu falei: “Leva, porque meu IPVA está vencido mesmo”. E ele: “Mas tu não quer dar uma idéia no capitão?”. Eu falei que não ia rolar, que era para ele levar o carro. A corrupção começa lá em cima, mas, se a gente quer reclamar do que está acontecendo lá em Brasília, não pode dar 10
contos para o guarda.
Apreenderam seu carro?
Não, me deixaram ir embora.


Alguns autores de novela têm se surpreendido com a torcida do público pelos vilões, algo que aconteceu com o Olavo em Paraíso Tropical. Por que isso ocorre?
Acho que os vilões são mais interessantes. No vilão, pode ter humor, que é raro de ter no mocinho. O povo gosta quando o personagem é divertido. Já fiz mocinho. É ótimo, mas é um tipo de personagem que tem “não pode”. O vilão não tem “não pode”. O vilão pode tudo.
É melhor para o ator?

É diferente. É um barato fazer o mocinho também, entrar naquele jogo do cara que ama e é honesto, virtuoso, viril, o exemplo do homem alfa. Mas o vilão é a doidice.

E como foi fazer o Olavo?
Foi o máximo. Uma novela boa da porra de fazer, só com gente legal. Adorei.


Mas você não quis assinar contrato longo com a Globo. Por quê?
Pensei e repensei, mas prefiro manter essa posição. Tem tanta coisa acontecendo, é bom ser livre e poder fazer o que quiser, sem ter de pedir para ninguém. Ou não se sentir constrangido a aceitar um convite porque está recebendo aquele dinheiro. Por outro lado, todo mundo tem contrato...
Você é pai agora, e novela toma tempo. Não tem a ver com isso?

Não. Ser pai era um motivo para ter contrato, porque estabilizaria, meu filho ia ter um plano de saúde bom. Não sei ainda direito dessa história do contrato. Continuo tendo a postura de não fazer, mas não tenho certeza se é a coisa certa.

E a proposta da Record?

Em mim não chegou. Não quero leilão. Não quero ficar preso com ninguém.

Seu próximo projeto é no teatro. Por que Hamlet?

Acho Hamlet a coisa mais incrível já escrita. Em vários personagens que eu fiz, Hamlet paira. O Olavo é hamletiano, vivia um pouco para vingar o pai.
Você teve filho recentemente, mas raramente se viu foto do Bem.
Não tem de aparecer foto do Bem.
Mas tem paparazzi espalhados no Rio.
Não sou muito vítima dos paparazzi porque tenho uma vida quieta. Paparazzi é uma categoria profissional que eu não respeito. A profissão do fotógrafo é tão bonita, eu sou casado com uma, isso desmerece... Mas há uma demanda, enfim. Meu filho Bem não vai aparecer, enquanto eu puder preservá-lo. Quando ele tiver 18 anos, vai decidir. Ninguém tem que saber onde ele estuda, como ele é, não é
da conta de ninguém. A gente não gosta de aparecer, que dirá ele.
Como tem sido a experiência da paternidade?
É muito bom, é a melhor coisa.
Troca fralda?

Troco. É bom demais.

Fonte: Isto é Gente

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