Tropa de Elite em Berlim
Ao fim da sessão oficial Tropa de Elite no Festival de Berlim, vimos uma platéia que reagiu bem, mas não exatamente do jeito que o diretor, José Padilha, esperava. Alguns aplausos chochos. Mas, curiosamente, o público saiu da sessão elogiando, o filme, dizendo que apesar do tom sombrio, de ser pesado, que é um filme muito bom.
Para atrapalhar completar a trajetória do filme na capital alemã, houve uma falha técnica na sessão que foi exibida pela manhã para os jornalistas. Não se sabe porque cargas d’água, mas a versão com legendas em inglês falhou, o que fez com que o filme fosse exibido com áudio original em português e legendas em alemão. A solução encontrada para ajudar aos espectadores que não falavam alemão, foi distribuir fones de ouvido que faziam a tradução simultânea do filme em inglês, francês e espanhol.
Nos últimos dias, a mídia internacional, tem classificado o filme como um novo Cidade de Deus e José Padilha foi intitulado ‘dono de um fenômeno cinematográfico’, pela revista Screen Magazine. E após a exibição para os jornalistas pode-se notar que o filme conseguiu agradar à crítica.
Logo após a exibição para o público, Padilha subiu ao palco e disse:
“Muito obrigado. Estamos todos muito honrados de estar aqui no Festival de Berlim. Estamos honrados, mas obviamente não podemos estar felizes, por causa desta situação no Brasil”.
Para apimentar um pouco mais, o diretor aproveitou o clima gerado pelo filme para criticar a polícia brasileira, os traficantes, e de quebra, a crítica cinematográfica. Disse que os críticos brasileiros têm o hábito de encarar de maneira diferenciada a cinematografia americana e a brasileira.
“Quando Scorsese, que é um dos meus ídolos como diretor e esteve neste festival faz um filme como ‘Os Bons Companheiros’, ninguém diz que ele é pró-máfia. Eu fui acusado de ser radical de direita porque fiz ‘Tropa de Elite’, um filme com o ponto de vista de um policial, e fui acusado de ser radical de esquerda quando fiz ‘Ônibus 174', com a perspectiva do seqüestrador”.
E ainda arrematou, dizendo que fez esse filme para mostrar o quão insustentável está a situação do Brasil, onde a polícia (e uma boa parcela da população) acredita que violência se combate com mais violência, e ainda aproveitou pra deixar bem claro que (assim como eu) é a favor da legalização das drogas. Ao lado de Padilha, estavam os atores, Wagner Moura e Maria Ribeiro e alguns membros da equipe técnica.
A grande cena eleita pelo público foi a da granada, que gerou uma enorme gargalhada com a aula do Capitão Nascimento sobre estratégia, onde o personagem fala a palavra em vários idiomas, mas com poucas variações de entonação e pronúncia, e quando chegou o momento em que ele pronunciava em alemão, o público foi abaixo.
É claro que boa parte das sacadas sarcásticas do Capitão Nascimento vão passar batidas ao público e à crítica, já que muita coisa está inserida no nosso contexto, e só passam a ter graça quando se vive na nossa realidade. Tanto que optou-se por não traduzir os gritos de guerra do pessoal do Bope (que viraram hits nas salas de aula de todo o Brasil), que eram ouvidos em áudio original e sem legenda, já que foi impossível exprimir em numa tradução curta e grossa o que aqueles versos queriam dizer.
A maioria dos brasileiros, que bem ou mal, acabou dando uma conferida na versão Jack Sparrow, já sabia que a versão internacional do filme receberia o nome de The Elites Squad, mas o que ficou de fato engraçado, foram as traduções dadas aos bordões clássicos do filme, repetidos à exaustão em tudo quanto é canto do Brasil. Alguns dos exemplos são: “o senhor é um fanfarrão”, que virou “you’re buffoon”; “pede para sair” foi traduzido para “ask to quit”; “traz o saco” passou a ser “bring the plastic bag”; e “o senhor é moleque”, que virou “you’re punk”.
Apesar de difícil, Tropa de Elite foi lá e fez a sua parte na busca pelo Urso de Ouro, uma vez que entre os concorrentes está o candidato ao Oscar de Melhor Filme e elogiadíssimo, Sangue Negro. Os vencedores do Festival serão anunciados no próximo sábado, dia 16 de fevereiro. Com a exibição em Berlim, o filme deu a largada de sua maratona internacional em busca da indicação ao Oscar 2009. Vamos ver no que vai dar…
Fonte: Cena Brasilis
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