A gente não quer só comida
Saneamento Básico, o Filme faz jus ao que a publicidade apregoará: Não perca. O novo trabalho de Jorge Furtado, o diretor do curta Ilha das Flores e de longas-metragens como O Homem Que Copiava, é engraçado como poucos títulos brasileiros recentes têm conseguido ser. De quebra, faz uma charmosa defesa do cinema nacional que, aqui e acolá, é tratado como algo menor, quando não inútil.
Furtado, escritor hábil, roteirista da TV Globo, manipula as fragilidades do próprio ofício para, não sem contradição, valorizá-lo. A história, que ele define mais como “declaração de amor ao cinema” do que como crítica ao sistema de produção, encerra uma trapalhada tipicamente nativa.
Uma família de colonos italianos, na serra gaúcha, anda às voltas com um projeto de saneamento básico para a comunidade. Mas a prefeitura não tem um tostão para a obra. Uma funcionária lembra, porém, que há em caixa uma verba do Ministério da Cultura, fruto de um concurso para vídeos feitos em cidades de até 20 mil habitantes. Como o filho do prefeito desistiu do filme, a família, capitaneada pela personagem de Fernanda Torres, decide pegar o dinheiro, engendrar um vídeo e, com o troco, levar a cabo a obra.
Saneamento Básico nos mostra a realização do filmete que colocará em cena mocinha (Camila Pitanga), monstro (Wagner Moura), mocinho (Bruno Garcia) e cientista sabichão (Paulo José). Acompanharemos as tentativas de descobrir um gênero (eles apostam que toda ficção é científica), a escritura do roteiro sem pé nem cabeça, o merchandising patético e os efeitos especiais inventados com produtos saídos das gôndolas do mercado. Em tom brincalhão e despretensioso, Furtado mostra o que é fazer cinema e, a despeito do final apaziguador, age politicamente. É claro que o Brasil precisa de saneamento básico. Mas isso não quer dizer que não precise de cultura.
Fonte: Cinema com Rapadura
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