Wagner Moura está mau como o pica-pau
Ator diz que fazer o vilão de Paraíso Tropical é como brincadeira infantil
A pressão e as cobranças que um grande papel em uma novela das oito pode trazer não assustam Wagner Moura. Ele prefere encarar o mau-caráter Olavo, de Paraíso Tropical, como uma divertida brincadeira.
"O personagem não tem moral, então posso esculhambar", argumenta o ator.
Wagner diz que só precisou ler o texto de Gilberto Braga para compor o executivo invejoso e metido.
"O Olavo é espetacularmente bem escrito, só estou tentando não atrapalhar", derrama-se.
Em sua segunda novela - em 2005 ele interpretou o mocinho Gustavo de A Lua Me Disse - o ator que na TV já protagonizou também a minissérie JK, em 2006, compara a atuação aos sonhos imaginativos da infância.
"O trabalho do ator é um brincar. Quando pequeno a gente sonha em ser super-herói e nossa profissão é uma continuação disso", pontua.
Apesar de satisfeito com os projetos que tem participado na Globo, Wagner prefere fazer contrato por obra.
"Assim tenho mais liberdade de escolha", justifica.
Apaixonado por teatro e com uma sólida carreira no cinema, ainda em 2007 ele mostrará a cara em três longas: Saneamento Básico, de Jorge Furtado, em que ele também contracena com Camila Pitanga, Romance, de Guel Arraes e Tropa de Elite, de Zé Padilha.
"Seria ótimo se eu levasse o público da TV para o cinema. Mas não acredito nisso. Acho até que o cinema brasileiro tem preconceito com atores de televisão. Me dei bem porque aproveitei a brecha quando ainda não tinha o rosto muito conhecido", defende.
TV Press - Como você encara a experiência de viver o primeiro vilão de sua carreira em sua primeira novela das oito?
Wagner Moura - Procuro sempre me divertir em todos os trabalhos que faço e não me sentir pressionado pelo tamanho ou importância do papel. Essa novela é uma oportunidade de fazer uma brincadeira com o folhetim clássico, com a figura tão marcante do vilão. É diferente de tudo o que já fiz porque lido com os clichês da telenovela: grandes cenas de traição, grandes cenas de amor. Está sendo uma diversão para mim e o ator sempre quer fazer personagens diferentes. O Olavo é um cara angustiadíssimo porque é preterido na empresa. Como ele não tem moral e é totalmente dissimulado, dá para enlouquecer, esculhambar.
TP - O que é mais prazeroso nesse trabalho?
WM - A impressão que eu tenho é de que volto um pouco à minha infância atuando. Mas uma das coisas que estou adorando fazer nessa novela são as cenas com a Camila Pitanga. Porque o personagem é um cara tão esnobe e acaba se apaixonando por uma prostituta. A Bebel é a fraqueza dele e nós estamos tentando fazer as cenas com os dois bem apaixonados um pelo outro para dar esse ar de folhetim mesmo. Torço muito pelo Olavo e espero que ele se dê bem no fim de toda essa história.
TP - De que maneira a sua infância, vivida no interior da Bahia, influenciou diretamente seu trabalho?
WM - Soma muito na questão da criação. O trabalho do ator é um brincar. Quando criança, você brinca que é super-herói. A atuação é uma continuação disso. E quando você é criado em um ambiente que proporciona essa liberdade, melhor ainda. Eu não fui criado dentro de um apartamento. Fui criado no interior. A cidade inteira sempre foi um playground gigante para mim. Vivia em contato constante com a natureza e qualquer pedaço de pau ou uma pedra podiam ser milhões de coisas para mim. Acho que isso exercitou bastante o lúdico na minha cabeça.
TP - Você já declarou que, como ator, tem facilidade para captar aspectos do dia-a-dia, do contemporâneo. Como foi o processo de composição para interpretar um personagem que representa o lado sujo do mundo executivo?
WM - Esse mundo dos executivos e dos homens de negócio eu vivi um pouco na novela "A Lua me Disse", que fiz em 2005. Só que na novela, o personagem Gustavo, que era dono de um banco, era bom caráter. No caso do Olavo, minha criação é feita toda em cima do texto do Gilberto Braga porque é um personagem espetacularmente bem escrito. O texto me bastou. E ainda vem mais história por aí. O motivo do personagem odiar tanto a mãe, Marion, e o irmão, Ivan, tem ligação com a morte do pai dele. Como ator, fico imaginando milhões de jeitos de contar essa história.
TP - Você é uma pessoa avessa às badalações. Como é lidar com a visibilidade e o assédio que uma novela das oito proporciona?
WM - Encaro o assédio com tranqüilidade. Continuo fazendo tudo o que sempre fiz. Nunca deixei de ir a lugar nenhum por medo de ser abordado. No Carnaval, em Salvador, eu saio no meio do povo sem problemas. Geralmente, a maneira como as pessoas chegam até mim é sempre é muito bacana. E às vezes, quando acontece alguma coisa chata, a gente sempre encontra uma maneira de contornar a situação. Acho que isso acontece justamente porque eu não me escondo e continuo vivendo como sempre vivi. Além disso, não sou um cara que está sempre nessas revistas de fofoca. Comigo não tem essa onda de celebridade.
TP - Na época da minissérie "JK", você afirmou que o ritmo intenso de gravações era penoso, principalmente se tratando de um baiano... Como está lidando com as gravações de "Paraíso Tropical"?
WM - Estou gravando muito e dia desses até comentei com o Tony Ramos, brincando: "Tony, não estou agüentando mais". Não tenho muito esse tempo acelerado da televisão, mas na minissérie foi pior para mim. Agora estou mais tranqüilo e adaptado ao ritmo da TV. Mas tem dias em que o Dennis Carvalho está atacado e resolve gravar uma cena atrás da outra...
TP - Você começou no teatro e construiu uma carreira cinematográfica sólida. Como é sua relação atual com a televisão? Você continua com contrato assinado por obra...
WM - Contínuo contratado por obra porque não pensava que fosse me adaptar tão bem à televisão. Não concordo com a história de que a tevê limita o ator, apesar de ter começado no teatro e sentir que, quando volto aos palcos, me religo a valores básicos do meu trabalho. Aprendi muita coisa, inclusive a lidar com a rapidez da TV. Você tem que estar pronto muito rapidamente para uma cena. A TV exige uma velocidade grande e isso é um aprendizado importante para o ator. Sem contar que o Brasil tem um estilo de fazer televisão único. E tem outras coisas bacanas como o contato com as pessoas que trabalham aqui e tem know-how, conhecer grandes atores que fazem televisão, diretores como o Dennis Carvalho. Cada vez mais eu gosto de trabalhar com ele porque o cara sabe muito de televisão e é superleal. E tem ainda mais uma questão: no Brasil é a TV que dá para o ator a popularidade para ele conseguir bancar projetos que queira fazer. Nunca fiz nada na minha vida só pelo dinheiro, tem o barato de aprender com uma linguagem diferente. Mas a questão financeira é inegável. A TV dá para nós um salário mensal, um plano de saúde. No Brasil, ela tem uma estrutura que o cinema e o teatro não têm. A televisão empresta dignidade à profissão do ator.
TP - Você acredita que sua popularidade na tevê se reflete na bilheteria dos filmes que você faz?
WM - Seria ótimo se eu levasse o público da tevê para o cinema. Mas não acredito nisso. Sinceramente, não acho que a bilheteria dos filmes seja influenciada pelos atores da televisão. Os filmes que fizeram muito sucesso no Brasil, como "Cidade de Deus" e "Carandiru", eram longas que não tinham atores tão conhecidos. "Se Eu Fosse Você", com o Tony Ramos e a Glória Pires, teve muita repercussão, mas é um caso relativo. Acho até que o cinema brasileiro tem preconceito com atores de televisão, não gostam muito de caras televisivas. E penso que fui parar no cinema por isso. Porque cheguei para fazer teatro em uma época que o cinema estava procurando rostos que não fossem os da tevê. Acho que me dei bem no cinema porque aproveitei essa brecha.
Fonte: Correio de Uberlândia
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