Gravação de 'Tropa de Elite 2' no Santa Marta assustou muita gente

RIO DE JANEIRO - Morar no Rio de Janeiro é assim: vira e mexe, um flash. Seja uma situação real ou pura ficção, a cidade sempre rende uma cena de cinema. Nesta segunda-feira não foi diferente. Por volta das 5h40, cerca de 100 homens vestidos de policiais ocuparam as vielas do Morro Santa Marta, em Botafogo. Três horas depois, helicópteros com inscrições da Polícia Civil sobrevoavam a comunidade. Os moradores desavisados acordaram com a certeza de que a favela voltara a viver o pesadelo das guerras entre traficantes e policiais, comuns antes de o morro ser ocupado pela Unidade de Polícia Pacificadora, em novembro de 2008. A realidade, porém, trouxe ares de ficção ao susto: era apenas a gravação do filme Tropa de Elite 2. Ufa!

– As pessoas acharam que estavam invadindo o morro. Houve correria, e os motoristas que passavam por aqui aceleraram os carros. Foi tudo muito real – contou Jorge Ferro, proprietário de um quiosque na Rua Marechal Francisco de Moura, único acesso ao morro por Botafogo.

O realismo das filmagens não assustou apenas os moradores do Santa Marta. Em Laranjeiras, Humaitá e Botafogo, muita gente saiu de casa preocupada. O motivo da aflição foi o sobrevoo – quase rasante em áreas como as ruas Belisário Távora, Teixeira Mendes e General Glicério, em Laranjeiras – de dois helicópteros negros, idênticos aos usados pela Polícia Civil. Ah, ambos tripulados com policiais de verdade que portavam armas (de mentira, segundo a produção do filme).

– Tiros no entorno do Santa Marta. Terror onde deveria haver paz, e nem fomos avisados de que era uma filmagem – escreveu, revoltada, a leitora do JB Online Monica Coronel.

A estudante Fernanda Ferreira, moradora do Humaitá, conta que o barulho foi muito grande.

– Vi helicópteros, ouvi tiros, e achei realmente que estivesse ocorrendo algum problema. Fiquei com medo de sair de casa, acabei chegando mais tarde no trabalho.

Comunidade avisada

Embora o presidente da Associação de Moradores do Santa Marta, José Mário Hilário dos Santos, diga que todos na favela estavam avisados – a gravação foi divulgada pela rádio comunitária – muita gente foi pega de surpresa.

– Pensei que o morro estivesse sendo invadido mesmo – disse motoboy Alexandre Alberto, 28.

A produção do longa-metragem não forneceu detalhes das gravações, mas garantiu que as armas usadas são réplicas, cujos modelos não foram divulgados. A informação será mantida em sigilo para evitar a ação de bandidos. Em 2006, uma van com 90 armas usadas no primeiro filme foi roubada próximo à favela Chapéu Mangueira, no Leme.

Capitão Nascimento comanda a invasão 'fake'

As crianças da comunidade Santa Marta tiveram um dia divertido nesta segunda. Toda a movimentação que preocupou os mais velhos dentro e fora do morro gerou muita curiosidade nos meninos e meninas. O estudante Igor Nunes, 13, achou “muito legal” poder conhecer os bastidores.

– A única coisa chata foi ter que acordar cedo, porque estou de férias – disse, sorrindo, admitindo que foi o barulho dos helicópteros e dos fogos que o tirou da cama.

Ao lado de Igor, dezenas de crianças se aglomeravam para ter uma visão privilegiada do longa. As cenas do filme estão sendo rodadas desde a semana passada em diversos pontos da cidade. Comunidades cariocas servem de cenário para a história, mas até a Assembleia Legislativa do Rio emprestou suas dependências para a produção, na última quinta-feira.

De acordo com a equipe do filme, todo o processo para as tomadas, nesta segunda, no Santa Marta foi feito de forma tranquila. A escolha das locações se deu com a ajuda da comunidade.

A trama, mostra uma ocupação ao Santa Marta, planejada pelo Capitão Nascimento (Wagner Moura). No filme, ele está à frente da ação conjunta das Polícia Civil e Militar.

Jeito de estrela

Em 1996, Michael Jackson subiu as ladeiras da favela para gravar o vídeo clip da música They don't care about us. A escadaria principal ficou lotada, principalmente de jovens. No último trimestre de 2009, foi a vez da popstar Madonna fazer uma visita que durou menos de uma hora, o suficiente para atrair centenas de moradores na quadra esportiva ao lado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Recentemente, outras figuras ilustres estiveram no morro: o cônsul geral dos Estados Unidos, Dennis Hearne, e a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, a sul-africana Navi Pillay.

Fonte: JB Online

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