Wagner Moura despede-se em Salvador de seu aclamado Hamlet



Dividido entre os ensaios para o longa VIPs - que começa a filmar no próximo mês- e a turnê de Hamlet, Wagner Moura, 33, anda num “ritmo frenético”. Mas fala isso de um jeito simpático e tranquilo, de quem se acostumou com a correria.


“Hoje, eu estou meio de bobeira”, brinca por telefone o ator, que passou o dia de sexta-feira (17) em sua casa no Rio, antes de seguir para Curitiba, onde apresentou Hamlet, num teatrão para 2,4 mil pessoas.

Curitiba foi a última capital antes de Salvador, que recebe o espetáculo no próximo final de semana, noTeatro Castro Alves. Diante da intensa procura, uma nova sessão foi aberta no dia 24.

“Só concordei porque é aí. A peça exige muito de mim, é muito física”, afirma Wagner, que define seu príncipe da Dinamarca como dinâmico e até mesmo risonho.

“Tem a ver com o meu jeito, com a minha baianidade”.


Hamlet estreou em junho de 2008, em São Paulo, e encerrará a turnê na capital baiana. Aclamada pelo público e pela crítica, a peça chegou ao Rio em março e também passou por Recife e Goiânia. Terminar em Salvador, enfatiza Wagner, não foi por acaso:

“Queria muito mostrar Hamlet na Bahia, onde tenho muitos amigos e está minha família. Vai ser emocionante”.

Cerveja e acarajé

É neste clima que ele vai desembarcar com a mulher, a fotógrafa Sandra Delgado, e o filho Bem, 2 anos. Quando está na cidade, o artista tenta, e jura que consegue, manter a rotina dos tempos da Faculdade de Comunicação da Ufba e do teatro baiano. Ou seja, ficar um tempão na casa dos pais, no Stiep, dar uma passada no Porto da Barra, tomar uma cerveja no Mercado do Peixe, comer acarajé e reunir a galera da banda Sua Mãe.

“É sempre muito tranquilo, as pessoas têm um carinho muito grande por mim. Acho que elas se sentem representadas, porque estou sempre falando da Bahia”, pontua.

Constantemente cercado por conterrâneos, o baiano de Rodelas (cidade submersa pela barragem de Itaparica) destaca a presença dos atores Marcelo Flores e Fábio Lago no elenco de Hamlet. Mesmo a distância, Wagner acompanha o atual debate no teatro baiano e mostra-se preocupado com a cena.

“Sei que há muitas queixas com a política cultural. Acho nobilíssimo querer interiorizar a cultura, mas é injustificável a falta de apoio a quem faz o teatro profissional”, opina.

Declarando-se “amigo e admirador” do secretário da Cultura Marcio Meirelles, Wagner afirma que não pode deixar de se solidarizar com os colegas de profissão.

“Comecei nos anos 90, época áurea do teatro baiano, quando havia muitas peças em cartaz e o público nos prestigiava”, lembra.

Cinema e tevê

Como tem acontecido nos últimos anos, Wagner não terá muito tempo para descansar entre Hamlet e o próximo papel. Desde que estourou, ao lado de Lázaro Ramos e Wladimir Brichta, na peça A máquina, (2000) de João Falcão, ele não para.

Mais recentemente, emendou o vilão Olavo de Paraíso tropical com o controverso Capitão Nascimento de Tropa de elite, desembocando diretamente no herói de Shakespeare.


Quando retornar ao Rio, fará uma pequena pausa antes do início das filmagens de VIPs, primeiro longa do cineasta Tonico Melo, produzido pela O2 Filmes, de Fernando Meirelles. O projeto seguinte é a continuação de Tropa de elite, um dos maiores sucessos do cinema brasileiro e vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim.

Wagner se associou ao cineasta José Padilha e responderá pela produção da continuação. Com isso, brinca, terá de colocar a mão na massa mais cedo, para opinar em questões como roteiro e escalação de elenco. As filmagens mesmo só devem acontecer em janeiro de 2010.

Quem anda com saudades dele na tevê terá de esperar um pouco mais. Wagner ainda não tem planos concretos para o veículo.

“Minha vontade era continuar com o Hamlet, mas já tinha compromissos antigos. Também é difícil manter uma equipe como a nossa”, diz o ator, que reunirá o grupo para apresentações em Portugal e Londres no ano que vem.

Shakespeare mais humano

Um palco quase vazio, um telão que projeta imagens do espetáculo filmadas em tempo real e atores nas laterais do palco, assistindo o desenrolar da trama como plateia. Ali mesmo eles trocam de roupa. Com estes e outros elementos pouco usuais, a versão de Hamlet encabeçada por Wagner Moura e dirigida por Aderbal Freire Filho, lançou um olhar renovado para a tragédia de William Shakespeare, escrita no século XVII.

Longe dos palcos desde 2004, Wagner conta que encontrou no personagem o estímulo para retornar. Ele assina a produção e divide a tradução com o diretor Aderbal Freire Filho e a professora de inglês Barbara Harrington.

“Nossa tradução não privilegia o literário. Buscamos a humanidade. Deixamos o texto mais comunicativo”, explica Wagner.

Para Aderbal, a meta não era buscar o coloquialismo e sim a “poesia sem rebuscamento”. O diretor diz que, como Hamlet é o texto do dramaturgo inglês que mais fala sobre o próprio teatro, fez da metalinguagem o seu mote principal. “Em cena, teremos os atores sempre no palco, como se fosse uma companhia de teatro contando a história”, afirma.

A idéia central gira em tornoda encenação montada pelo atordoado Hamlet, para tentar descobrir averdade sobre a morte do pai. Wagner divide a cena com mais dez atores. Entre eles, Tonico Pereira (Claudio), Georgiana Góes (Ofélia), Mateus Solano (Horácio), Fábio Lago (Laerte) e Carla Ribas (Gertrudes).

A peça tem cenário da dupla Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque e figurinos de Marcelo Pies. A iluminação é do veterano Maneco Quinderé. Em contraponto, a trilha sonora foi entregue a um estreante nesta seara: o cantor e compositor carioca Rodrigo Amarante (Los Hermanos).

Sua Mãe vai gravar primeiro álbum

Mesmo com 17 anos, a banda Sua Mãe sempre foi um projeto B na vida de Wagner Moura. Nem em seus tempos de Salvador, o grupo fundado no segundo grau com o amigo Gabriel Carvalho teve muito impulso. Mas depois de algumas apresentações televisivas e de uma farra, ano passado, na Boomerangue - o primeiro show profissional - eles tomaram gosto.


Até o final do ano, entre os projetos dos filmes VIPs e Tropa de Elite 2, confirma Wagner, o repertório de rock brega vai ser registrado em CD.

“Acho que a gente merece”, diz o vocalista.

A Sua Mãe é formada, ainda, por Leco (bateria), Serjão Brito (baixo), Ede Marcus (guitarra base e vocal), Tangre Paranhos (teclados e vocal) e Claudinho David (violão, ritmo e vocal).

Fonte: O Que a Bahia Quer Saber
Texto editado por Andressa Santos

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