Wagner Moura volta ao teatro e encara o desafio máximo de viver Hamlet



Depois de quase quatro anos longe dos palcos, Wagner Moura faz um retorno triunfal como ninguém menos que Hamlet, o maior personagem do teatro ocidental, protagonista da tragédia de William Shakespeare. O ator, que brilhou nos cinemas como Capitão Nascimento em "Tropa de Elite" e como o vil Olavo em "Paraíso Tropical", também experimenta pela primeira vez o prazer de produzir uma peça e convidou para a direção Aderbal Freire-Filho, que o havia dirigido em sua última incursão ao teatro, em "Dilúvio em tempos de seca" (2004).

- Ao contrário do que muita gente pensa, "Hamlet" não é uma peça para iniciados. Deveria haver tantos Hamlets quanto existem franquias de McDonald's. Nunca acreditamos no hermetismo desta peça. Se ela era popular em 1600, quando foi escrita e disputava platéia com brigas de urso, por que não pode ser popular agora? Se todo mundo que viu "Tropa de elite" viesse ver "Hamlet" a gente estava bem - disse Wagner Moura, ansioso para estrear na próxima sexta-feira, dia 20 de junho, no teatro Faap, em São Paulo.

Um dos grandes diferenciais da montagem de Wagner Moura e Aderbal Freire-Filho, que traz no elenco Caio Junqueira (o aspira Neto, de "Tropa de elite") como Horácio, o melhor amigo do atormentado príncipe da Dinamarca, é a tradução, feita pelo próprio Wagner Moura, em parceria com a professora de inglês Barbara Harrignton e finalizada por Aderbal Freire-Filho. A opção foi criar um texto vivo e comunicativo, sem ambições literárias.

- É uma tradução feita para o teatro, para a boca dos atores. Era assim que Shakespeare escrevia. Apesar disto, considero a nossa tradução uma das mais fiéis. É quase linha a linha em termos de fidelidade. É poética, sem ser rebuscada - explicou Aderbal Freire-Filho, contando que no primeiro ensaio aberto, feito para estudantes de teatro no domingo passado, um jovem o procurou para dizer que havia entendido pela primeira vez o significado do célebre monólogo em que Hamlet diz "ser ou não ser, eis a questão".

"Hamlet" é uma peça que faz uma série de alusões ao teatro. O príncipe da Dinamarca é ator, diretor e dramaturgo. Ao encontrar uma companhia mambembe e convidá-la a se apresentar no castelo, Hamlet escreve cenas para o grupo apresentar, os dirige e chega a encenar um monólogo. O príncipe exalta a força do teatro, ao acreditar que a encenação possa revelar a verdade sobre o assassinato de seu pai, o rei, pelo seu padrasto, Claudius, usurpador do trono ao se casar com sua mãe após matar o rei.

Assim, Aderbal Freire-Filho optou por uma montagem brechtniana na qual os atores ficam em cena quase o tempo inteiro. Eles trocam de roupa no palco, assistem aos outros atores e fazem as mudanças de cena na frente do público. O jogo teatral é totalmente aberto para que o público esteja consciente o tempo inteiro de que se trata de uma encenação.

- É como se fosse uma peça dentro de outra peça, dentro de outra peça, um jogo de espelhos - adianta o diretor.
Rodrigo Amarante, de Los Hermanos, assina a trilha sonora

O público deve também manter os ouvidos atentos. A trilha sonora de "Hamlet" foi composta por Rodrigo Amarante, guitarrista, baixista, vocalista e compositor da banda carioca Los Hermanos. É a primeira vez que Amarante cria para o teatro.

- A trilha usa um conjunto de guitarras em camadas que traduz bem a alma turbulenta de Shakespeare. A peça tem também umas canções populares inglesas, cujas letras eu traduzi e Amarante musicou. Foi a primeira vez que ele criou música para uma letra já escrita. São músicas cantadas por Ofélia e os coveiros - conta Aderbal.

- Para quem está começando, uma parceria com Shakespeare não é nada mal, né?
- brincou Wagner Moura.

"Hamlet" fica em cartaz em São Paulo até setembro e deve estrear no Rio em 2009. O local ainda não foi definido.

Sobre a escolha de estrear na capital paulista, Wagner Moura explica que atualmente em São Paulo o teatro tem um espaço que não tem em nenhum outro lugar do Brasil.

- A gente quis estrear no melhor lugar para fazer teatro. Em São Paulo há três vezes mais peças em cartaz do que no Rio e uma diversidade maior entre os espetáculos - justificou o ator.

"Hamlet" - Estréia 20 de junho, às 20 horas. Temporada: até 28 de setembro de 2008. No Teatro Faap. Rua Alagoas, 903. Tel: 11 36627233 ou 1136627234. Sex e sab, às 20h. Dom, às 18h. R$ 80.

Fonte: O Globo Online

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