Entrevista para Revista das Lojas Marisa



O que significa o Tropa de Elite ser premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim?
É um prêmio que é importante para todo mundo que faz cinema no Brasil e na América Latina. A gente tem tido cada vez mais filmes nos festivais grandes do mundo. Tanto o cinema brasileiro, quanto o mexicano e o argentino, principalmente. E ganhar o Urso de Ouro é maravilhoso! Acho que é o segundo ou terceiro prêmio mais importante do cinema no mundo. E para mim e para o José Padilha[diretor do filme], além de ser incrível foi uma recompensa muito grande. A gente brigou muito, tanto aqui quanto lá fora, para defender o filme de interpretações tortas.

Por chamarem o filme de fascista?
É. A gente defendeu muito o filme, acho que o prêmio foi um entendimento e uma resposta: "Pô! O filme que a gente fez é o que está sendo premiado lá fora”. Não acredito que alguém no mundo, ainda mais um cineasta político e um humanista de esquerda como o Costa-Gravas iria premiar um filme fascista.

O que aconteceu na hora da exibição do filme?
Foi uma confusão, acho, do próprio Festival. As sessões para a imprensa, geralmente, são passadas com cópias legendadas em inglês. E a nossa cópia sumiu. Então foi um filme em português com a legenda em alemão. A crítica pior que agente teve foi da Variety, que quando eu li, vi claramente uma crítica de alguém que não tinha entendido o filme.

Você chegou a conversar com o Rodrigo Pimentel?
Com o Pimentel não. Depois eu falei com o Zé Padilha, com o Marcos Prado[produtor do filme]. Estavam lá, ainda meio chapados, indo para uma coletiva. Estavam super felizes.

Depois do Capitão Nascimento as pessoas começaram a reconhecer mais você?
Esse filme foi visto por 11 milhões de pessoas antes de estrear. Tropa de Elite foi um fenômeno popular aqui no Brasil muito grande. Além disso, o filme apareceu numa época em que eu estava fazendo a novela das oito, que também nunca tinha feito. Então, o ano passado foi um ano em que fiquei mais em evidência, talvez, da história toda da minha carreira.

Porque esses filmes com uma temática violenta,como Cidade de Deus e o próprio Tropa de Elite,fazem tanto sucesso no Brasil?
Não sei se faz tanto sucesso aqui no Brasil... Primeiro porque são bons filmes, independentemente de suas temáticas. São filmes bem realizados, feitos por bons cineastas. Outra coisa é que a violência faz parte da nossa vida cotidiana, dos brasileiros. Mas ainda das pessoas que moram nas favelas. Essas sim são as verdadeiras vítimas da violência no Brasil. Então, acho que é uma identificação que nós temos com o assunto, que talvez seja o tópico mais importante a ser debatido hoje no Brasil. E acho que o filme até contribuiu com isso. Nunca vi nenhum ser tão discutido no país como foi o Tropa de Elite.

O que achou da iniciativa de algumas pessoas que haviam assistido ao filme em cópia pirata de pagar o valor do ingresso à produtora, que por sua vez decidiu doar esse dinheiro ao Instituto Nacional do Câncer?
Não fiquei sabendo disso. Sério? Não deve ter sido uma fortuna, mas é uma coisa bonita. Legal, muito legal.

Seu último papel em novelas foi o Olavo, que fez muito sucesso com a Camila Pitanga. Televisão, teatro, cinema,v ocê já fez os três. Qual te atrai mais?
Sou um cara do teatro. Comecei lá. E acho que o ator tem um espaço no teatro que ele não tem em canto nenhum. Este ano vou fazer outra peça, voltar aos palcos. E não posso negar que é o que mais gosto de fazer.

Parte de sua geração[Lázaro Ramos, você, Vladimir Brichta]apareceu na peça de teatro A Máquina de João Falcão e depois apareceram outros atores baianos também, como João Miguel. Vocês faziam parte de algo que pudesse se chamar de uma “cena” de teatro ou surgiram de diferentes grupos?
Eram grupos distintos, mas fazendo teatro em Salvador. Todo mundo se conhece. Mas Lázaro era de um grupo chamado Bando Teatro Olodum. Era não, ainda é. Ele se considera do grupo. Vladimir Brichta também tinha outro. Mas todo mundo trabalhando muito junto, sempre se cruzando o tempo todo. Então somos amigos há uns 15 anos, mais ou menos.

E como foi o seu começo no teatro?
Meu começo foi em um grupo de adolescentes que chamava Casa Via Magia. Tinha uma galera que fazia teatro lá. Tinha uma amiga que estudava na mesma escola que eu, a gente fazia algumas peças juntos lá, e ela me convidou para entrar no grupo. Fui pra lá e achei um barato.

Qual vai ser essa nova peça que você vai fazer?
Vou fazer Hamlet. Vou estrear aqui, em São Paulo, no teatro FAAP, em junho, provavelmente no dia 6. Neste mês[fevereiro]começam os ensaios no Rio de Janeiro, com um elenco do Rio, todo mundo de lá. Mas a gente estréia em São Paulo.

E para o cinema,algum novo plano?
Tem um romance que vai ser lançado esse ano, mas não sei quando. E tem outros projetos para fazer, mas só depois da peça. Estou priorizando mesmo a peça. É o que quero fazer agora. Devo ficar com ela em cartaz até 2009 e depois tem uns projetos de cinema para fazer de novo.

Você fez o Olavo,que era o tipo canastrão. O Capitão Nascimento, que era mais truculento. E na mesma época saiu o filme, Saneamento Básico, em que você fazia um personagem mais tranqüilo, suave. Como você trabalha para criar tantos personagens diferentes?
Sei lá. Cada um é um processo diferente. E o barato do ator é esse mesmo, justamente poder fazer personagens diferentes. Então é isso. Cada interpretação tem um jeito de você fazer.

Vamos agora falar um pouco do lado pessoal de Wagner Moura. O que mudou na sua vida depois que se tornou pai?
Sua vida só fica melhor. Só melhora tudo.

Você é bem casado, excelente filho e irmão. Qual é a fórmula, se é que ela existe?
Não sei, não tem fórmula. Tento, quando não estou trabalhando, ficar muito em casa, perto das pessoas de que gosto, não só do meu filho, mas meus amigos também. É o que todo mundo faz, estar perto de quem ama. Não tem muito segredo, não.

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