Amigo baiano nos States



Era julho de 1993. Eu havia ganhado, de um curso de inglês, o prêmio de melhor aluna: uma viagem a Sarasota, na Florida, para passar um mês morando em casa de família. Tinha 15 anos. Wagner Maniçoba de Moura, dois anos mais velho que eu, baiano de Salvador, também ganhou o prêmio. Viajamos juntos para os Estados Unidos, entre um grupo de alunos do mesmo curso, mas de várias cidades do país.

A viagem foi uma festa, repleta de novidades para aquela turma de adolescentes com sotaques tão diferentes. E foi nesse clima gostoso que conheci melhor o Wagner. Um garoto de pernas finas, cabelo comprido e engraçado: era meio fino, meio ralo. Dava até impressão de que ele ficaria careca logo. Era um cara tão bacana que nos aproximamos muito e, na volta, foi difícil se desligar, mesmo estando eu em Canoas e ele lá em Salvador.

Sempre conversávamos ao telefone e, em 1996, surgiu a oportunidade de visitá-lo. Fui para Salvador e fiquei na casa ainda em construção da família Moura. Seu Zé, pai de Wag, e Ledi, irmã dele, estavam lá para me receber. Na época, a mãe de Wagner, Alderiva, fazia um tratamento dentário no Interior. A primeira coisa que me surpreendeu quando vi Wagner foram os cabelos. Agora, estavam grossos e crespos! De onde surgiu aquilo? "Eu raspei e cresceu assim", explicou, deitado na rede que tinha no quarto.

Na época, ele cursava Jornalismo. Nos anos seguintes, o caminho de Wagner cruzou com o teatro. Algumas vezes ele esteve em Porto Alegre, geralmente a trabalho, e conseguimos nos ver. Me ligou um dia dizendo: "Cáren, estou na Feira do Livro. Você sabe onde fica? Venha me ver". Em 2001, me hospedei no apartamento em que ele estava, no Rio de Janeiro, e assisti à A Máquina (três vezes), peça que foi a vitrine para os trabalhos que viriam. Não só para ele, mas ainda para seus amigos de Salvador Vlad (Vladimir Brichta) e Lazinho (Lázaro Ramos). Foi naquele ano que ele, apaixonado, trouxe San (Sandra Delgado, mãe de seu filho, Ben) de carro de Salvador para viver com ele na Cidade Maravilhosa.

Em todas as vezes que vou ao Rio, dou um jeitinho de encontrar esses dois. Em uma delas, outro amigo nosso de intercâmbio, Daniel, de Curitiba, estava junto. Wag e San se preparavam para um aniversário e nos convidaram para ir com eles. "Tudo bem", dissemos. Foi só no caminho que Wag, displicente, comentou que a festa era "de Caetano", com aquela fala mansa. Era o aniversário de 60 anos de Caetano Veloso. Daniel e eu nos olhamos, em choque.

Mas esse é Wagner. Um cara simples, nunca foi deslumbrado. Um cara que recebe as ligações e visitas dos amigos com uma felicidade incrível. Que sente falta da família, que se emociona fácil. Ele é doce. Nunca fez o tipo "bonitão", com suas pernas finas, sua enorme pinta no queixo, seu cabelo desgrenhado. E agora todas as mulheres suspiram por ele.

Por Cáren Cecília Baldo no ZeroHora.com

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