Entrevista concedida a Revista Contigo! dessa semana

Conhecido por seu trabalho no teatro e cinema, Wagner Moura será o protagonista em sua estréia em novelas.

Depois de atuar em filmes como Deus é Brasileiro e Carandiru, ele se prepara para estrear um folhetim, A Lua me disse, de Miguel Falabella, que estará no ar a partir de segunda-feira (18), às 19h

Na semana passada, Wagner Moura saiu do prédio onde mora, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, e foi até o restaurante onde costuma almoçar, de bermuda, camiseta surrada e chinelo, ele completou os cerca de 100 metros do percurso sem ser abordado por ninguém. Falou apenas com "seu" Luiz, o vigia do prédio dos Correios - que o cumprimentou com um forte tapa nas costas -, e com César, um deficiente físico que, numa cadeira de rodas, vende balas na calçada. Durante essa caminhada, dezenas de pessoas passaram por ele sem se dar conta de que tinham acabado de cruzar com o protagonista da próxima novela das 7 da Globo: A Lua me disse, de Miguel Falabella, que estréia na próxima segunda-feira. Aos 28 anos, com seis peças e sete filmes no currículo, Wagner Moura ainda não sabe o que é ser famoso.

Apesar de já ter atuado em alguns dos filmes nacionais mais comentados dos últimos anos, como Deus é Brasileiro (2003), de Cacá Diegues, e Carandiru (2003), de Hector Babenco, e em produções da TV, entre eles o seriado Carga Pesada e o humorístico Sexo Frágil, Wagner Maniçoba de Moura (27/6/1976) não é uma celebridade. E nem quer ser. Tanto que conta nos dedos as vezes que concedeu entrevistas para alguma revista, jornal ou programa de TV. E sempre, invariavelmente, limitou-se a falar sobre a vida profissional. Até agora. Nesta primeira entrevista que concede a Contigo!, o ator baiano relata a infância pobre e saborosa em Rodelas, no interior da Bahia, conta que teve uma adolescência triste e solitária, fala da família e se mostra apaixonado pela mulher, a fotógrafa Sandra Delgado, 28, com quem está casado há quatro anos.

Numa conversa aberta, divertida, densa e sincera, que durou cerca de sete horas e teve duas sessões - uma em São Paulo e outra no Rio -, Wagner Moura se revela um jovem centrado, inteligente, tranqüilo e bem-humorado. Lembra, por exemplo, de como se sentia nas filmagens de Deus é Brasileiro, em que contracenou com o veterano Antõnio Fagundes.

"Houve ocasiões em que estávamos filmando e eu, enquanto falava o texto do meu personagem, pensava: Caramba. Estou trabalhando com o Antônio Fagundes." , conta o ator, com a voz grave e compassada que é uma de suas marcas. Com ar de gente comum e um rosto que dá aquela impressão de "já te vi em algum lugar", ele sabe que é talentoso. e diz isso sem medo de parecer arrogante.

A poucos dias de estrear numa novela, ele confessa estar preocupado com a fama que o novo trabalho certamente lhe trará.

"Gosto de andar na rua, de abraçar e beijar meus amigos, sem me preocupar com o assédio", declara.


"Tenho medo de perder isso."

Apontado por diretores, produtores e pela mídia como um dos melhores atores do país na atualidade, Wagner, que é formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, tem a trajetória construída sobre uma base sólida: o teatro. Nesta entrevista, ele fala da carreira, de Deus, amor, da fama e dos sonhos que tem E, apesar de todos os elogios que sempre recebe pelo seu trabalho, se mostra um pouco inseguro em relação ao futuro.

"Tomara que minha carreira dê certo.",diz.

A Lua me disse é sua primeira novela e você já será o protagonista. A que credita isso?
Com certeza, não foi por causa da minha beleza. Se fosse por isso, estaria ferrado. Acredito que fui escalado para protagonizar A Lua me disse em virtude do que tenho mostrado no cinema e no teatro. Acho que colocar um ator conhecido pelo trabalho no cinema para atuar numa novela é bom para TV.

O que está achando de gravar uma novela?
Sensacional. Ainda é tudo muito novo pra mim. Estou adorando o contato com os atores e me espanta o ritmo das gravações. É tudo muito rápido. A Lua me disse será um desafio pra mim. A novela é um meio culturalmente brasileiro. Sei que será importante para populaizar meu trabalho.

É muito provável que essa popularização aumente o assédio em torno de você.
Sei disso. E confesso que estou um pouco preocupado. Gosto de andar na rua, de abraçar e beijar meus amigos sem me preocupar com o assédio excessivo. Mas não vou mudar.

Na peça Dilúvio em Tempos de Seca (em que Wagner atua ao lado da atriz Giulia Gam), há um trecho em que diz: "A fama enfraquece a alma.". Você concorda?
É um pensamento interessante. Mas isso só acontece se o artista perder o rumo. A fama pode acabar com o ator, se ele se deixar iludir. Eu não corro atrás da fama. Ela é bem vinda, mas não é minha neta. Só quero que o meu trabalho faça sentido às pessoas.

Você sempre foi muito elogiado por seu trabalho e é apontado, pela crítica e pela mídia, como um dos melhores atores da atualidade. Você se acha tão bom quanto dizem?
Não vou ser hipócrita. Sou muito bom. Mas não sou especial. No Brasil, há muitos atores tão bons quantos eu, mas que ainda não foram descobertos. É preciso acabar com a centralização do trabalho do ator. O cara pode ser o melhor ator do país, mas, se ele não estiver no Rio de Janeiro ou, numa escala menor, em São Paulo, nunca será descoberto. Talvez tenhamos um ator fenomenal em Belém (capital do Pará), por exemplo, e o Brasil nunca vai ver o trabalho desse cara, se ele não fizer algo no Rio ou em São Paulo. Eu, Lázaro Ramos (baiano) e Vladimir Brichta (mineiro) só fomos descobertos porque, em 2001, montamos a peça A Máquina, no Rio. Só a partir daí recebemos convites para fazer cinema e TV.

Na sua opinião, qual o melhor ator do Brasil?
Tem muita gente boa. Gosto do trabalho de Lázaro e de Vladimir, que são dois grandes amigos. Eles são fantásticos. Mas tenho uma admiração muito grande por Selton Mello. Ele é muito bom, sério, talentoso. É uma referência pra minha geração.

Com quem você gostaria de contracenar?
Com Pedro Cardoso. Ele é o maior comediante do Brasil. É um cara inteligentíssimo e ótimo ator. Tive o prazer de contracenar com ele em uma participação que fiz em A Grande Família, em 2002. Mas foi só uma pontinha. Gostaria de fazer algo maior com Pedro, na TV, no teatro ou no cinema.

Seu primeiro grande papel no cinema foi em Deus é Brasileiro, protagonizado por você e Antônio Fagundes. Como foi filmar com um ator do porte de Fagundes, logo no início da carrreira?
Isso foi muito louco. De repente, eu estava trabalhando com um cara que eu só via na televisão. Para você ter idéia de como minha cabeça ficou, houve ocasiões em que estávamos filmando e eu, enquanto falava o texto do meu personagem, pensava: 'Caramba. Estou trabalhando com Antônio Fagundes'. Ele é um mestre. É culto, inteligente, carinhoso. Na época das filmagens, passamos por histórias muito engraçadas.

Conte-me uma delas.
Certo dia, estávamos filmando num bairro da periferia do Recife. As pessoas enloqueciam ao ver Antônio Fagundes. Para que ele pudesse chegar ao local das filmagens, foi preciso por seguranças ao redor, para impedir que as pessoas o agarassem. Ninguém me conhecia. O povo nem queria saber de mim. Além de tudo, eu estava com a roupa do meu personagem (Taoca), que era um pescador, um cara do povo. Quando tentei entrar no local das filmagens, os seguranças me barraram. Eu dizia que era do elenco, mas ninguém acreditava. Os seguranças me dizia: " Saí daqui, malandro" (risos). até que a produção me resgatou.

"ERA TÍMIDO (NA ADOLESCÊNCIA). ERA TÃO FECHADO QUE OS GAROTOS DIZIAM QUE EU TINHA VINDO DE OUTRO PLANETA. MEU LAZER ERA FICAR TRANCADO NO QUARTO, JOGANDO UMA BOLA DE TÊNIS NA PAREDE"

No meio artístico, para quem você ligaria numa hora de aperto ou tristeza?
Para Lázaro Ramos. Somos como irmãos. Temos uma amizade que já dura mais de dezanos. Quando estamos felizes ou tristes, ligamos um para o outro para comemorar ou desabafar. Lázaro é um cara com quem sei que poderei contar para o resto da vida. Amo muito aquele negão

Qual sua lembrança mais forte da infância?
Fui uma criança muito feliz. Cresci numa cidadezinha no interior da Bahia, em Rodelas, às margens do Rio São Francisco, na divisa com Pernambuco. Minhas brincadeiras preferidas eram jogar futebol na rua, tomar banho de rio e roubar frutas dos vizinhos. Só fomos morar em Salvador quando eu tinha uns 13 anos.

Como foi sair de uma cidade pequena para viver na capital?
Muito complicado. Eu não conseguia me entrosar com a turma do colégio. Era tímido. Vivia calado, quieto. Não tinha amigos. Eu era tão fechado que os meninos passaram a me chamar de Óvni (sigla para objeto voador não identificado). Diziam que eu era de outro planeta. Meu lazer era ficar trancado no quarto, jogando uma bola de tênis na parede. As paredes eram todas marcads de bola. Mas meus pais (o sargento aposentado da Aeronáutica José Moura, 69 e a dona-de-csa Alderiva Maniçoba, 50) não brigavam comigo. Eles me entendiam.

Esse panorama influiu na sua relação com as meninas? Com quantos anos você começou a namorar?
Lembre que eu só passei a ser fechado quando fui morar em Salvador, aos 13 anos. Antes disso, já tinha beijado muita boca. (risos)

Começou cedo.
Pois é, rapaz. Diferentemente do que as pessoas imaginam, no interior as coisas acontecem com muito mais facilidade (risos). Eu deveria ter uns 11 anos quando comecei a beijar na boca, em Rodelas. Sempre fui perigoso.

Tem alguma história curiosa dessa época?
Não sei se eu devia contar isso. Mas lá vai. Eu tinha 14 anos e já morava em Salvador. Fui passar férias em Rodelas e tive um rolo com uma mulher de 28 anos. Certo dia, estávamos namorando atrás da Igreja, na hora da missa, e fomos flagrados pelo padre.

Qual o nome dessa moça?
Você está doido? Se eu disser o nome dela, vou criar a maior confusão na sociedade rondelense (risos). Esquece isso.

E hoje, como está sua vida amorosa?
Maravilhosa. Há quatro anos, casei com Sandra (Delgado, 28, fotógrafa baiana). Ela é é uma mulher sensacional. Além disso, é minha melhor amiga. Começamos a namorar no início de 2001. Eu já morava no rio e ela vivia em Salvador. Três meses depois, ela largou tudo para morar comigo.

"TENHO MUITO MAIS INTERESSE EM ATUAR NUM FILME ARGENTINO OU MEXICANO DO QUE EM TRABALHAR EM HOLLYWOOD"

Como um adolescente tímido e calado se transforma em um ator?
Eu queria ser popular. Mas não gostava de nada do que a galera gostava. Não curtia Carnaval, detestava axé music. Imagine um adolescente, em Salvador, que não goste de Carnaval nem de axé music. Era por isso que me chamavam de Óvni. As coisas começaram a mudar quando uma menina me chamou para fazer um curso de teatro. Fui com a intenção de encontrar pessoas diferentes da turma do colégio. No primeiro dia do curso, eu enlouqueci. Aquele era meu mundo. Tinha gente que ouvia MPB, rock e gostava de ler. Comecei a ser quem eu queria.

Quais são seus sonhos?
Um deles é ter dinheiro suficiente para viajar. Quero conhecer a Europa e o Japão. Tenho uma vontade danada de ver como é a vida do outro lado do mundo. Também tenho um desejo enorme de ser pai. Em relação ao trabalho, tenho vontade de fazer parte de um movimento cinematográfico da América Latina. Tenho muito mais interesse em atuar num filme argentino ou mexicano, por exemplo, do que em trabalhar em Hollywood. E gostaria de ver o Brasil combater a injustiça social. Temos de acabar com a idéia de que um indivíduo é melhor do que o outro porque tem mais grana.

Você tem alguma religião?

Acredito em Deus. Mas também acredito que somos um pouco deuses de nós mesmos. Quando queremos muito uma coisa e lutamos por isso, alcançamos nosso objetivo. Está sendo assim comigo.

Fonte: Contigo!

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